Projeto exibe documentário “Bienvenidos a Boa Vista”, que retrata a situação dos imigrantes venezuelanos que chegam ao Brasil. Estreia do curta-metragem aconteceu dia 28/03, no Auditório Amarelo, e contou com presença da diretora do filme, de professor da Faculdade 28 de Agosto e uma imigrante venezuelana.
Um dos assuntos mais atuais da geopolítica latino-americana, a imigração de venezuelanos para os países vizinhos, foi tema de um documentário exibido pelo CineB no dia 28/03, no Auditório Amarelo do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, que fica no prédio Martinelli, Centro de São Paulo. O curta-metragem “Bienvenidos a Boa Vista”, dirigido por Elisângela Cordeiro, jornalista responsável pela TV dos Bancários, e com fotografia de Paulo Pepe, que foi fotógrafo do Sindicato, retrata a imigração de venezuelanos para o Brasil, que já ultrapassou 250 mil pessoas nos últimos anos.
O estado de Roraima tem sido a principal porta de entrada dos irmãos latinos, que deixam seu país de origem, às vezes, como última opção para si e seus familiares, apostando em dias melhores. O documentário de 30 minutos conta parte dessa trajetória pelo olhar das mulheres, que têm mudado o mapa recente da migração brasileira. O filme dá voz tanto para aquelas que chegam, quanto para quem as recebem.
Elisângela conta que o documentário é uma forma de “contar um pouco da realidade. Uma coisa é quando vem europeus, outra coisa, é quando vem africanos, venezuelanos. Então é uma forma de combater a xenofobia, e relembrar que todos nós somos imigrantes, porque é um país formado por migração. Acho que é uma forma de ver nossa história, se enxergar e respeitar quem está chegando”, avalia.
A diretora conta que o trabalho teve apenas uma exibição, na Cáritas, uma organização católica que atua com refugiados, antes de entrar para o circuito do CineB. “O filme está iniciando uma trajetória de exibições no circuito não comercial. Temos pedidos vindos do interior de São Paulo, de algumas igrejas porque, como começou uma interiorização dos venezuelanos, há uma operação de acolhida dessas pessoas e muitos desses lugares estão pedindo a exibição do filme”, destaca.
A sessão contou com a participação de parte da diretoria do Sindicato, convidados e alunos do Ensino Médio da Escola Estadual Herbert Baldus, localizada no Grajaú. Professores e alunos da unidade escolar sempre participaram das atividades organizadas pelo CineB. Segundo William Alves de Almeida, professor de história e filosofia, o objetivo foi o de aproximar os alunos da realidade que acontece na Venezuela. “A gente recebe a informação muito distorcida da mídia hegemônica no Brasil, ela só fala mal, então a ideia é passar um contraponto”, explica.
Após a exibição foi organizado um debate mediado pelo coordenador do CineB, Cidálio Vieira Santos. O diretor da Faculdade 28 de Agosto e professor de Relações Internacionais, Moisés Marques, ao lado da diretora do curta, Elisângela Cordeiro, fizeram uma ampla análise dos conflitos que a sociedade venezuelana vive. Também integrou a mesa de debate a venezuelana Joice Yepes, que imigrou para Roraima em 2017 com o marido e três filhos e, em março, foi recebida pela Pastoral do Migrante da Paróquia Santa Cruz do Itaberaba, na Freguesia do Ó. Joice fez um relato, para o público presente, das dificuldades que sua família enfrentou na Venezuela nos últimos anos. Ela explica que Chaves e seu legado é defendido por uma grande parte dos venezuelanos por conta dos direitos sociais que ele levou à população mais pobre, mas que nos últimos anos os problemas de abastecimento têm feito muitos deixarem o país, caso de sua família.
Sobre a vida no Brasil, ela conta: “minha filha, que agora tem 9 anos, falava para outra que tem 7, em Boa Vista, ‘não fale muito alto, porque vão saber que somos venezuelanos’. Então sentíamos esse medo. Agora não, eu falo para ela que temos que ter orgulho por sermos venezuelanos, e que agora fala dois idiomas, o que é uma coisa boa, porque ela já pode ajudar o país”, destaca.
Darialva da Graça, professora aposentada que há quatro anos fundou a Pastoral do Migrantes na Paróquia Santa Cruz do Itaberaba, na Freguesia do Ó, Zona Norte de São Paulo, conta que recebe uma demanda grande de imigrantes bolivianos e peruanos. “Nós ministramos aula de língua portuguesa, temos um projeto para as crianças, fazemos um trabalho de inseri-los na comunidade” explica.
No caso dos venezuelanos, ela conta recebeu um convite da Pastoral Nacional do Imigrante para receber os venezuelanos. “Fiz uma reunião com a nossa equipe, com o padre, coloquei a proposta e eles aceitaram. Então montamos uma casa para receber uma família por seis meses, até que se organizem, arrumem emprego. Depois trazemos outras famílias”, relata.
Darialva explicou para o público que para manter o projeto, recebe doações da comunidade e tem uma página na internet para fortalecer o trabalho: www.caminhodesolidariedade.org.br. Quem quiser colaborar é só contatá-la pelo site.
Para Elisângela, diretora do documentário, que conhece o CineB desde o início, em 2007, o debate foi muito bom, e o filme cumpriu seu papel, “de ser um dispositivo para mostrar a realidade e para que as pessoas possam entender um pouquinho do que está acontecendo com a Venezuela, e com o Brasil também, porque o filme fala das relações humanas e do papel da mulher nessa história”, finaliza.
PROJETO
O CineB Solar, parceria entre a Brazucah Produções e o Sindicato dos Bancários de São Paulo, é um circuito alternativo de exibição que, desde 2007, leva cinema brasileiro para várias regiões da cidade. O projeto, já contabiliza um público superior a 64 mil pessoas em mais de 512 sessões gratuitas em comunidades, escolas e universidades de São Paulo. Já foram exibidos na tela do CINEB mais de 124 longas metragens e 73 curtas metragens.