VILA ANASTÁCIO

Uau! Cine B marcando presença pela primeira vez em Vila Anastácio, zona oeste de São Paulo, numa sessão com 250 pessoas! O salão da Igreja Santo Estevão Rei se transformou numa animada sala de cinema.

Nesta sessão tivemos a ilustre presença do elenco do curta-metragem brasileiro O troco. O roteirista, produtor e diretor do curta, André Rolim, veio acompanhado dos atores  Lieser Touma e Cinira Fiuza. Cynthia Alario, diretora da Brazucah Produções também marcou presença no evento.

Coincidentemente, o editor assistente da revista Movie, Leonardo Carvalho, acompanhado do fotógrafo Mastrangelo Reino, também estiveram nesta sessão para uma reportagem que sairá edição de março, sobre nosso querido Cine B.

Morador de Vila Leopoldina, bairro vizinho de Vila Anastácio, Luiz Cláudio Marcolino, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, também apareceu neste Cine B. O idealizador do evento chegou direto de Brasília para reforçar com o padre Joaquim, da Igreja Santo Estevão Rei, a vontade do Sindicato em criar uma forte parceria com a comunidade.

“Quando começamos com o Cine B, há quatro anos, nem sabíamos se ia dar certo. O objetivo era que as próprias comunidades organizassem a sessão. Em troca, como acontece ainda hoje, o Sindicato disponibilizaria o material para divulgação e a estrutura para montagem do cinema”, disse o presidente Luiz Cláudio Marcolino.

Ele conta que no começo, não sabiam como solucionar os problemas com direitos de exibição dos filmes. Foi aí que surgiu a parceria entre o Sindicato e a Brazucah Produções. “A Brazucah é responsável pela logística do evento e esta parceria tem dado certo porque é uma empresa que busca a formação de público para o cinema. Muitas pessoas que vem ao Cine B nunca estiveram no cinema. E dessa forma vamos aproximando estas pessoas dos filmes produzidos aqui, no Brasil”, explicou Luiz.

O Sindicato dos Bancários promoveu diversas ações em 2009 que muito beneficiam a classe e sociedade, tanto nos assuntos corporativos, quanto nos culturais. Para saber mais informações, acesse www.spbancarios.com.br.

AGUARDE, SUA LIGAÇÃO É MUITO IMPORTANTE!

Assim como a maior parte das pessoas, André Rolim teve que resolver um pepino no obscuro labirinto do telemarketing. Como a maior parte das pessoas, não conseguiu resolver.

Então, ele investiu 1.200 reais, juntou um grupo de empresas interessadas em patrocinar e lá está o filme O troco, que num tom bem humorado protesta contra o pesadelo do telemarketing. “Li um texto que veio no meu e-mail, esses anônimos, sobre uma situação parecida, em que era a atendente que sofria na mão do cliente. Aí resolvi adaptar e rodei o filme”, explica André Rolim.

O pequenino investimento, segundo ele, foram destinados para comprar comida, pagar a gasolina e eletricistas para o set de filmagem. “O resto foi tudo por conta de parcerias”, diz Rolim.

Esta econômica produção já conseguiu 4 prêmios em festivais de cinema. “Numa recente mostra em Barcelona foi um dos filmes mais aplaudido. O troco foi uma forma de mostrar meu trabalho como diretor, para que futuros patrocinadores confiem nos meus projetos”, disse André. Ele acrescenta que já se prepara para lançar dois outros curtas-metragens. “Juízo final, que será rodado no Estado de Pernambuco, e  Acaso, que será filmado no Rio de Janeiro”, explica Rolim, que não revela qual será o tema dos filmes.

Ele ficou muito feliz de saber que o curta que O troco esteja fazendo tanto sucesso no Cine B. André Rolim elogiou esta ação do Sindicato. Tanto ele, quanto o elenco, empolgaram-se com a quantidade de pessoas rindo e aplaudindo o curta-metragem. “Particularmente, nunca tinha visto O troco ser exibido numa sessão tão cheia quanto essa”, confessou a atriz Cinira Fiuza.

CENÁRIO DESANIMADOR 1

Cinira Fiuza, que no filme O troco faz o papel da amaldiçoada atendente de telemarketing, foi premiada como melhor atriz de curta-metragem digital, no Festival de Cinema de Maringá. “Realmente já chorei ao telefone numa situação parecida, mas ao contrário da personagem do filme, eu estava como cliente”, disse Cinira.

Aos 14 anos ela decidiu ser atriz. Ao se formar, percebeu que não conseguiria pagar todas as contas trabalhando só como atriz. Então se formou em jornalismo, para ter uma segunda profissão. “Mas agora, como auxiliar de enfermagem, encontrei o que gosto muito de fazer, além de ser atriz”, explica Cinira Fiuza.

Lieser Touma, que em O troco faz o papel do humorado cliente vingativo, também mantêm uma segunda profissão que paga as contas: dentista.

“Eu faço muito comercial de televisão, porque isso dá mais dinheiro. É muito difícil sobreviver só de teatro. Na televisão, o perfil dos atores é muito restrito, querem rostos perfeitos, é muito difícil encontrar personagens gordos como eu”, explica Lieser. Isso é realmente uma pena, porque simplifica a diversidade de perfis humanos que convivemos todos os dias. Você não acha?

Mas voltando ao tema, sobreviver como ator/ atriz, Lieser acredita que o cenário ainda pode mudar. “Tudo tende a melhorar. Com incentivos como a Lei Rouanet, o Brasil tem conseguido fazer mais filmes. Porque sem patrocínio não dá, é muito difícil. Antes os donos de teatro arrendavam o espaço a um diretor e pediam uma porcentagem da bilheteria como pagamento. Hoje em dia cobram o aluguel, ninguém mais tem coragem de confiar na bilheteria de um espetáculo”, explica Lieser.

Aliás é interessante ressaltar que, segundo André Rolim, os atores de O troco participaram do filme sem receber cachê. “Todos trabalhamos por amor ao cinema e ver nosso filme num projeto como o Cine B, que aproxima o público do cinema brasileiro, é gratificante”, disse André.

POLÊMICA

Depois que O troco foi exibido, foi aberto espaço para perguntas do público. “Eu na verdade gostaria de ressaltar que precisamos também enxergar o lado difícil dos profissionais do telemarketing. Essas pessoas não tem muita escolha, são obrigadas a serem inconvenientes”, disse Elza Barboza de Jesus Alves, antes de perguntar para André Rolim, qual a visão dele desses profissionais.

O diretor colocou seu ponto de vista discordando que os atendentes de telemarketing têm a opção de saírem do emprego, se não concordam com as técnicas de venda utilizadas. “Eles recebem até treinamento para que você não consiga desligar o telefone”, disse André.

Antônia Régia perguntou se alguma empresa de telefones fixos reclamou das incríveis semelhanças com a fictícia Enganatel.

André respondeu que até hoje apenas ouve piadas. “Já me falaram, em tom de brincadeira, para eu ligar nesta empresa e avisar sobre o filme, que se eles quiserem eu vendo por uma boa grana. E em troca, não o exibiria mais”, disse André Rolim.

CENÁRIO DESANIMADOR 2

A espectadora Maria Elisa identificou-se com a personagem Verônica, do filme de mesmo nome.

Professora da 5ª série de uma escola pública numa favela da região de Pirituba, Maria confirmou o difícil cotidiano dessas valentes mulheres. “Recebemos ameaças dos alunos, acontecem coisas que você nem acredita. Nós, professores, temos com muito medo, mas eu não tenho idéia de como resolver isso! Na escola, tento passar muito amor e carinho, mas muitos alunos em casa vivem uma realidade dura”, explicou Maria Elisa, professora há 20 anos.

“Faço minha parte, espero sempre lhes melhorar a auto-estima”, disse Maria, que trouxe neste Cine B a neta Lara de 10 anos e a sobrinha Julia, de 8.

ZÉ DO CAIXÃO NA ÁREA!

Ao lado da Igreja Santo Estevão Rei, um sobrado de três andares esconde história. No espaço existia um grande cinema, o qual foi habitado pelo peculiar José Mojica Marins, famoso pelo personagem Zé do Caixão.

O pai de José Mojica, seu Nenê, era o zelador do cinema e morava nos fundos. “Quando o José ficava na bilheteria, depois que a sessão começava, me deixava entrar. Eu não tinha dinheiro para a entrada, mas éramos amigos”, disse Pedro Schumacher, que veio acompanhado de sua esposa Ioni Ganzerla Schu.

Pedro recolhia do lixo pedaços de filmes descartados pelo cinema. “Era tudo rolo de filme naquela época, o filme estourava e eles jogavam pedaços fora. Eu aprendi a colar com acetona e fazia a festa para impressionar as menininhas”, confessou seu Pedro.

BAIRRO DE ARTISTAS

Wilson Vieira de Almeida, outro morador do bairro, além de produzir seus filmes mantêm contato com diversos artistas de Vila Anastácio. “Zé do Caixão, os irmãos Andreato também moraram aqui quando pequenos. Hoje temos que prestigiar a escola de samba Dragões da Independência, que estão com um trabalho maravilhoso. Até tenho trazido o pessoal do carnaval de Parintins pra cá”, disse Wilson.

Segundo ele Vila Anastácio é um bairro que foi inicialmente povoado por Húngaros e povos do Leste Europeu. “Ainda hoje tem húngaros morando por aqui, gente que fala a língua nativa principalmente quando xingam”, explica o simpático Wilson.

TALENTO LOCAL

Edimar Sousa é um jovem de Vila Anastácio que almeja fazer carreira como cineasta. Ele já trabalha na área e atualmente finaliza os primeiros projetos de filmes documentais sobre o bairro. “Precisamos mostrar como é a nossa região e valorizar nossa história”, disse Edimar. Segundo ele, a região tem se transformado num cenário ruim.

“Grandes caminhões trafegam nessas ruas, que ficam irregulares e deixam o bairro barulhento”, disse Edimar.

Para quem está interessado também em fazer o próprio filme, que tal trocar umas figurinhas com o Edimar? Quem sabe não rola aí umas boas parcerias?

Quem quiser adiciona ele no Orkut.

TALENTO DE FORA

E to lá entrevistando os atores de O troco quando vejo uns rostos conhecidos. Quando terminei a entrevista, fui falar com as caras que já tinha visto. Confirmado! É o pessoal de Embu-Guaçu presente em Vila Anastácio.

Carol Piacentini, Vagner Araújo, Thamires Riechelmann e Douglas Pinheiro, criadores do grupo de teatro Caras, vêm todos os finais de semana para São Paulo. Aqui eles fazem cursos para aprimorarem-se como atores. Souberam que hoje ia ter Cine B pelas redondezas, vieram curtir um filminho.

Eles contam que se preparam para estrear a peça Sonho de uma noite de verão de William Shakespeare. “Estamos montando nosso próprio grupo porque os grupos que tem aqui em São Paulo já existem há muito tempo e são fechados para novos integrantes”, explica Carol Piacentini.

Já aproveitando, no dia 13 de março de 2010, às 21 horas, o grupo Caras apresentará O auto da Paixão. A peça que é adaptada e dirigida por Vagner Araujo, conta a história de um grupo circense fazendo sua última apresentação e para encerrar este importante ciclo, resolvem contar a paixão e morte de Jesus Cristo, com muita música e bom humor. O Paço Caras fica na rua Maria da Dores Delfim, 484, no centro de Embu-Guaçu. Maiores informaçõe: grupodeteatrocaras@gmail.com.

Depois que falei com eles, lá fora, a assessora de cultura de Embu-Guaçu, Adriana da Silva, se mostra ansiosa pela terceira volta do Cine B na cidade. “Hoje já podemos firmar uma data?”, pressiona a assessora.

Espero que o Cine B apareça logo por lá. Embu-Guaçu ainda não tem uma sala de cinema, ou mesmo de teatro. Mas segundo Adriana, o projeto para a construção desta sala de exibição já foi aprovado, e logo estará concretizado fora do papel. O prefeito de Embu-Guaçu, Clodoaldo, e o secretário de cultura Padre Jean estão de parabéns pelo trabalho. Além da rápida aprovação do cinema, a cidade dispõe de um ônibus escolar que leva a população para eventos culturais em São Paulo. Graças a esse ônibus que a galera de Embu-Guaçu pode estar presente na sessão de hoje!

AGRADECIMENTO ESPECIAIS

Gostaria de agradecer a toda comunidade de Vila Anastácio que muito ajudaram na realização desta e outras edições do Cine B na região. Quero agradecer a dona Raimunda, moradora de Vila Anastácio que fez contato com a Brazucah para que o Cine B fosse realizado no bairro. Muito obrigado também para a professora Jane de Paula.

Agradecimento especial a dona Clemenis, secretária da paróquia Santo Estevão Rei, que foi responsável pela distribuição dos ingressos e ao querido Padre Joaquim.

Sheila Aguiar, do Projeto Social Ilha de Vera Cruz, também esteve presente nesta sessão, já cobrando a volta do Cine B no colégio Ilha de Vera Cruz. Ano passado o Cine B esteve por lá numa sessão com 300 pessoas!

Agradecemos o importante apoio do jornal de bairro Jornal da Gente, que fez ótimas reportagens em duas edições do jornal, sobre o Cine B.

PRÓXIMA SESSÃO

Nos vemos no dia 25 de fevereiro de 2010, dessa vez pela primeira vez na cidade de Santo André. A Casa de Cursilho São José fica na rua Caruso, 805, esquina com a rua Batavia, no Parque Novo Oratório. Mais informações você consegue pelo telefone 4475-5640.

Vamuquevam!



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