A avó abrigava foragidos políticos na época do regime militar. No colégio de freira, recebeu uma educação repleta de tabus, coisas que não se deviam falar, fazer. Aos 15 anos teve o primeiro namorado, que se segurava para não chegar nos finalmentes, o motivo era a virgindade da moça. Quando finalmente ia rolar, a irmã do namorado pegou os dois no flagra, cortando o clima. Crise no namoro. Com uma cabeça de menina adolescente, fez besteira e casou-se com outro para fazer ciúmes. Mas o marido, num golpe de esperteza, teve um filho com ela e a tornou mãe ainda cedo. Não tinha emprego, o marido não a deixava ver o filho e o desespero lhe tomou conta. Resolveu se prostituir, mas na hora do vamos ver, Rita de Cássia conheceu o historiador Haroldo Costa, que a levou para a gringa num grupo de dança. Daí pra Cadillac e lady do povão aos 50 anos foi um pulo. Na opinião de Rogéria, famosa travesti dos anos 70, Rita era “uma menina tímida, com uma bunda maravilhosa”. Ficou famosa por saber rebolar e vestir uma personagem sensual.
Mas ela não é só isso, também é um ser humano, que erra, sofre com os erros e sabe dar valor às pessoas que erram na vida, como presidiários, por exemplo.
“A Rita Cadillac sempre foi a amiga, já a Rita de Cássia era a mãezona, que dava bronca”, diz seu filho Carlos Cezar no longa Rita Cadillac, a lady do povo.
“Não sei fazer outra coisa a não ser dançar. Meu corpo me fez o que represento, tenho de aceitar isso. A Rita de Cássia está aqui”, diz Rita no documentário, enquanto aponta o coração. Numa outra cena, prepara um almoço para a família como qualquer dona de casa faria.
Depois da fase chacrete (dançarina do Programa do Chacrinha, um Faustão dos anos 80, mais divertido), ganhou muita fama dançando para presidiários no extinto Carandiru. Em 2004 estreou como atriz pornô. Segundo ela, na hora do sexo pesado pedia que a produção sempre lhe recordasse da grana que receberia. “Eu me sentia baixa, foi horrível”, disse Rita.
Com uma edição dinâmica que não deixa o filme cansativo, e 90 minutos de uma história de vida para lá de inusitada, Rita Cadillac, a lady do povo, de Toni Venturi, é um documentário que vale a pena ser conferido na grande tela. É o tipo de filme que gera um bom bate papo depois da sessão.
Aliás, depois que Rita Cadillac foi exibido neste Cine B, o público pôde participar de um bate-papo com a musa e o cineasta Toni Ventura.
Clique aqui para ver o recadinho da lady, no Youtube, especialmente para o Cine B.
E aqui para ver o convite de Toni Venturi ao público do Cine B.
Rita Cadillac, a lady do povo estréia dia 9 de abril nos cinemas.
PERGUNTAS DO PÚBLICO
Gabrielle de Abreu Araujo, agente da Rede Brazucah, Metodista: “você acredita ter sido a chacrete mais bem sucedida?”
Rita: “Não me acho a mais bem sucedida. Talvez a que ficou mais famosa, porque fiquei mais tempo no programa. O Chacrinha era um pai de virgem, bravo e exigente. Muitas não agüentavam e saiam, era um entra e sai de chacrete. Mas eu passei e passo por muitas dificuldades, até hoje enfrento muitas barreiras. Tem certos canais de televisão que eu não entro. Sou o que sou graças ao público, a vocês.”
Vras77, da comunidade ABC Palmares da Brasilandia: “Tá solteira?”
Rita: “Solteiríssima, mas quem quiser ficar comigo vai ter que dividir a cama com minhas cachorrinhas.”
No filme Rita se casa de uma forma super maluca, num primeiro de abril, enquanto é gravado o documentário. Só que agora, já está livre de novo, divorciada.
Tianna Paschel: “Tem partes no filme que você se sente muito exposta?”
Rita: “Não, nenhuma. O Toni conseguiu tirar coisas de mim que eu nem lembrava, ele daria um ótimo terapeuta. Gosto de todo o filme, até das cenas de sexo. Ser mulher é difícil e muitas não se dão o valor. Eu não tenho medo de enfrentar, de mostrar. Não tenho medo, nem da morte.”
Apesar dessa sua atitude, se diz vítima de preconceito, e questiona porque não é chamada para comerciais de televsião, ou por exemplo, para a entrevista que promoveria o filme no programa Hoje em dia, da Rede Record, que segundo ela foi cancelada sem motivo.
“O Brasil é um país que por um lado é extremamente sensualizado e por outro lado é conservador. Quando digo que estou lançando um documentário sobre a Rita Cadillac, sempre ouço piadinhas”, disse o cineasta Toni Venturi, que também alega dificuldades na distribuição do filme, por ter como tema uma personalidade polêmica.
Mesmo assim, para quem gosta ou não de Rita, o documentário é fundamental para entendermos como algumas mulheres brasileiras utilizam apenas de seu corpo como ferramenta para a fama.
O difícil trabalho de Toni Venturi neste documentário, o de quebrar paradigmas e conceitos pré-estabelecidos sobre a dançarina, parece ter sido alcançado.
Alberto Trindade: “Eu vim aqui hoje com preconceito, mas estou saindo com uma imagem diferente de você”, disse para Rita.
ESPECIALMENTE
Mais uma sessão especial do Cine B, realizado pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e Brazucah Produções, levando o mais novo cinema nacional para os brasileiros. Nas pré-estréias do Cine B, já tivemos títulos como Meu nome não é Jonny, Era uma vez, Divã, Ouro Negro.
Esta sessão teve a presença de órgãos da imprensa local (Folha Bancária, site da rede Brasil Atual e revista Brasil Atual, Jornal Centro em Foco, Jornal Universitário). Também estiveram presentes os estudantes da rede Brazucah, que trabalham na divulgação dos filmes nacionais lançados pela Brazucah Produções.
COMENTÁRIOS
Poxa, hoje vi na sessão várias pessoas de comunidades (Associação dos Moradores do Jardim Ideal, Associação dos Moradores da Vila Rica, Associação dos Moradores da Comunidade São Remo, Comunidade do ABC e Jardim Brasilândia) que o Cine B esteve nos últimos meses, mas não deu tempo de falar com o pessoal. Por isso, quero agradecer em nome de toda a equipe do Cine B, o carinho e atenção de vocês e também pedir que comentem aqui, deixem sua opinião sobre o filme.
E você que leu até aqui também, comentaê!