O cinema brasileiro também ocupou a escola

Texto e fotos por Carlos Rizzo

Em sua última sessão de 2015, no sábado, 12/12, o CINEB foi até uma escola estadual ocupada por alunos, na região da Lapa, Zona Oeste de São Paulo, para prestar solidariedade e exibir uma sessão com os mais populares curtas-metragens do selo CINEB do cinema brasileiro

O CINEB encerrou 2015 com muito a comemorar. Em 10 meses de atuação, foram realizadas 45 sessões que levaram o melhor do cinema brasileiro para mais de 6 mil pessoas, moradores das mais diversas regiões da capital paulista e de municípios que integram a base do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região, realizador do projeto.

Última sessão de 2015 do CINEB acontece dentro de uma escola ocupada por alunos

E para encerrar com chave de ouro, o CINEB realizou sua última sessão do ano numa escola ocupada por alunos que protestavam contra a política de desmantelamento da rede de ensino do estado de São Paulo. A ideia de unir o maior projeto de democratização do acesso ao cinema brasileiro da cidade de São Paulo com a manifestação dos estudantes teve como objetivo mostrar que é possível levar discussão, arte e cultura de qualidade para uma geração de jovens que ousaram lutar por algo tão fundamental para a sociedade brasileira: a educação, que vive há mais de 20 anos um processo de contínuo sucateamento no estado de São Paulo. Os alunos da escola mantiveram a ocupação para pressionar o governador Geraldo Alckmin a desistir definitivamente da reorganização escolar, que segundo o movimento que ocupou 200 escolas entre novembro e dezembro, deve piorar a qualidade de ensino por conta da previsão de fechamento de unidades escolares e demissão de professores.

A EE Ciridião Buarque foi ocupara em solidariedade ao movimento

A sessão aconteceu no último sábado, 12 de dezembro, na E.E. Prof. Manuel Ciridião Buarque, que fica na Vila Ipojuca, na região Oeste de São Paulo. A escola conta com cerca de 300 alunos e atende somente o ensino médio. Não estava na lista das que seriam fechadas, mas em solidariedade àqueles alunos afetados, cerca de 50 estudantes com idades entre 15 e 19 anos ocuparam, desde o dia 23 de novembro, a unidade. Durante a ocupação o grupo contou com apoio e solidariedade de vários professores, moradores e comerciantes da região. “Recebemos doações de alimentos, inclusive uma pizzaria nos enviou 20 de pizza”, comentou um dos alunos.

Alunos da escola colaboraram na montagem da sessão de cinema

O CINEB organizou uma sessão com os curta-metragens de maior sucesso das quatro edições do Selo CINEB do cinema brasileiro. Orientados pelo coordenador do projeto, Cidálio Vieira Santos, os alunos ficaram responsáveis pela montagem da sessão que aconteceu na quadra da escola. Eles arrumaram as cadeiras na quadra, colocaram as camisas das cadeiras, instalaram banners e ajudaram a equipe de som e até o pipoqueiro, seu Antonio.

Sessão contou com a presença de familiares e moradores que apoiavam a causa dos alunos

Aos poucos a população do entorno da escola foi chegando. Alguns eram pais dos alunos e outros, simpatizantes. Na abertura oficial, Marcelo Gonçalves, diretor de cultura do Sindicato se disse solidário à ação dos estudantes, que conseguiram “dobrar”, o governo do estado, que foi obrigado a voltar atrás na proposta de reorganização que aconteceria em 2016. “Esses jovens estão aprendendo o que é cidadania, buscando seus direitos e expressando suas ideias. Ao mesmo tempo estão nos ensinando um novo jeito de fazer as coisas”, avalia. Ivana Antunes 17 anos, estudante do 3º ano do ensino médio, foi a responsável a falar em nome dos alunos na abertura oficial. Segundo ela, o CINEB trouxe a oportunidade da comunidade entrar na escola, conhecer como ela é. “Não imaginava que tantas pessoas nos apoiavam aqui em volta”, explicou Ivana.

Na abertura oficial, Marcelo, diretor do Sindicato, Ivana, representando os alunos e Cidálio, coordenador do projeto CINEB

A sessão teve a exibição de vários curta-metragens do selo CINEB como Vida Maria, O xadrez das cores, O ponto cego, Seu Arlindo vai à loucura e O filho do vizinho. Também foram exibidos dois curtas da 10ª Mostra de Cinema e Direitos Humanos no Mundo: Meu amigo Nietzche e Sobre coragem. A mostra, foi organizada pelo Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos na cidade de São Paulo entre os dias 7 e 13 dezembro.

A sessão teve os melhores curtas das quatro edições do Selo CINEB do Cinema Brasileiro

Segundo Raul Teixeira, professor de história que esteve presente na sessão, a atividade foi uma iniciativa marcante. “Para nós que lutamos por uma educação verdadeira, está sendo maravilhoso ver esses alunos aprenderem na prática aquilo que ensinamos na sala de aula. Eles e vocês do CINEB estão de parabéns pela inciativa”, elogiou. A sessão encerrou por volta das 21h30. Mesmo terminando antes do horário da lei do silêncio, um dos moradores vizinhos à escola entrou em contato com a polícia para reclamar da atividade. Quando os policiais chegaram, perceberam que a sessão já havia encerrado e foram embora sem causar nenhum problema à produção ou aos estudantes da escola.

Público aprovou iniciativa e acompanhou a sessão até o final

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O CINEB é um circuito itinerante de cinema realizado pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e pela Brazucah Produções. Desde 2007, o já atingiu um público superior a 50 mil espectadores em quase 400 sessões gratuitas realizadas em comunidades e universidades de São Paulo. A iniciativa busca democratizar o acesso ao cinema nacional e divulgar os filmes produzidos no Brasil. Já foram exibidos na tela do CINEB mais de 75 longas-metragens e 50 curtas-metragens, além da realização de pré-estreias exclusivas.

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