Trago Comigo, novo filme de Tata Amaral, será exibido na Regional Paulista, dia 23/6 (quinta-feira). O longa-metragem traz memórias da ditadura militar no Brasil e tem Carlos Alberto Riccelli em brilhante atuação. A diretora e a atriz Paula Pretta participarão de um debate ao final da exibição do filme.
No próximo dia 23 de junho, o projeto CINEB fará mais uma sessão especial na Regional Paulista. Desta vez para exibir o filme Trago Comigo de Tata Amaral, que conta a história de um exilado da ditadura civil militar e entra em cartaz nos cinemas no dia 16.
O longa conta a história do diretor de teatro Telmo, interpretada por Carlos Alberto Riccelli, que foi preso pela ditadura civil-militar no Brasil (1964-1985), e posteriormente exilado. Quando é convidado para dar uma entrevista, se dá conta de que não tem memória alguma dos meses que passou clandestino e de como aconteceu sua prisão. Através da peça de teatro que passa a montar junto com seu jovem elenco, ele vai estabelecer um diálogo com as novas gerações, mergulhar na sua própria história e na história de seu país. Vai revelar para si e para todos aquilo que, de tão doloroso, preferiu esquecer. Ao final da sessão a diretora e a atriz Paula Pretta participarão de um debate.
Segundo a diretora, um dos aspectos do filme é alimentar a discussão sobre fatos pouco conhecidos da época da ditadura civil-militar e as sequelas deixadas naqueles que viveram situações de violência em sua decorrência. Esta atitude fica evidente diante do fato de que o Brasil é um país que, ao contrário da Argentina e do Chile, por exemplo, nunca puniu os crimes de tortura.
Depoimentos reais de ex-militantes contrários ao regime militar dialogam diretamente com a ação da trama. Por exemplo, a ex-guerrilheira Criméia Alice Schmidt de Almeida afirma no filme: “Eu apanhei muito e apanhei do comandante. Ele foi o primeiro a me torturar e me espancou até eu perder a consciência, sendo que eu era uma gestante bem barriguda. Eu tava no sétimo mês de gravidez”.
Já o jornalista Ivan Seixas, membro da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, relembra que colocaram sua mãe embaixo da sala de tortura – e ela ouviu a noite inteira, o dia inteiro, seu marido (pai de Ivan) ser torturado e morto. Os depoimentos revelam ainda a angústia dos ex-militantes torturados pela ditadura militar em busca da verdade e da memória.
Nessas sequências documentais de Trago Comigo os nomes dos policiais e torturadores citados nos depoimentos foram suprimidos, pois estes nunca foram julgados e condenados e a produção do filme correria o risco de ser processada judicialmente. Em 1979 o Estado brasileiro promulgou a Lei da Anistia não só para aqueles que haviam sofrido perseguição política, mas sua redação deu margem à discussão e os torturadores também foram considerados anistiados. Os familiares ainda buscam informações sobre os desaparecidos políticos. Após quase 40 anos, os arquivos dos órgãos de repressão militares continuam fechados.
A cineasta Tata Amaral comemora, em 2016, 30 anos de carreira e 20 do lançamento de seu primeiro longa-metragem, o premiadíssimo Um céu de estrelas (1997), considerado pela crítica especializada um dos três filmes brasileiros mais importantes nos anos 1990. Ativista pelos direitos humanos, Tata traz em seu currículo produções como Antônia (2006) e Hoje (2011).
Trago Comigo é o segundo longa-metragem consecutivo no qual a diretora trata das sequelas da ditadura civil-militar brasileira na vida de seus personagens. Tata Amaral já havia buscado expressar dramaturgicamente uma relação problemática com o passado político em Hoje (2011) – longa vencedor do Festival de Brasília e premiado no Festival Internacional de Cinema Político de Buenos Aires e no Festival de Cinema Unasur (San Juan, Argentina).
Segundo a cineasta, o protagonista de Trago Comigo é a representação do esquecimento da sociedade brasileira em relação à sua própria história. As recentes manifestações pedindo a volta do regime militar, incluindo aquela do deputado Jair Bolsonaro exaltando Carlos Alberto Brilhante Ustra, reconhecido torturador pelo Superior Tribunal de Justiça, deram ao filme atualidade inesperada.
O longa, que mistura depoimentos reais com a ficção, conta com a participação da família Teles, vítima de Ustra e autora da ação que o reconheceu como torturador. Apesar da seriedade do tema, o filme não se furta a momentos divertidos ou emocionantes, sobretudo aqueles que revelam diferenças entre gerações. “O desafio de Trago Comigo e mesmo de Hoje, é encontrar uma expressão dramática para o que chamamos de relação problemática com o passado, um passado que insistimos em deixar no esquecimento. Assim, as memórias de Telmo são pouco a pouco reveladas, não como num flashback realista, mas como um espaço distinto da ação do filme, que é a peça montada no futuro”, afirma Tata sobre um dos dispositivos criativos usados no longa. Outro dispositivo é a montagem entre os depoimentos reais e a ficção, tecidos ao longo da trama.
Trago Comigo ganhou, em 2015, prêmio de Melhor Filme pelo Júri Popular no 10º Festival de Cinema-Latino Americano de São Paulo e também Melhor Filme no Festival Internacional de Cine y Derechos Humanos de Sucre, na Bolívia. O longa foi montado a partir da série homônima realizada e veiculada pela TV Cultura e o SescTV em 2009, produzida através do Projeto Direções, III Edição, e será lançado nos cinemas quase simultaneamente ao lançamento em DVD.
CURRICULOS
Paula Pretta
Nasceu na Zona Norte de São Paulo. É atriz, cantora, compositora e produtora de cinema. Trabalha com vários nomes da cena cinematográfica, teatral , musical e artística desde 1989. Ingressou no cinema nacional em 2000, como atriz no longa Contra Todos do diretor Roberto Moreira. A convite da diretora Tata Amaral fez a pesquisa e produção de elenco do filme Antônia devido à sua trajetória como cantora/MC e compositora no Rap Nacional.
Participações como atriz nos longas: De Menor de Caru Alves de Souza; Trago Comigo de Tata Amaral; É proibido Fumar de Anna Muylaert; As Melhores Coisas do Mundo de Laís Bodansky; O quanto Dura o Amor de Roberto Moreira; Se Deus Vier que Venha Armado de Luiz Dantas; O Galã de Francisco Ramalho; entre outros.
Trabalho em Companhias de Teatro: Gestus Núcleo de Criação e Pesquisa Teatral, Stúdio Teatro X, Cia. Triptal Desisos, Cia. De Teatro aos Tragos, Cia. Uzina Uzona.
Shows e performances junto aos artistas e músicos da cena contemporânea e multimídia: Luiz Duva, Coletivo Embolex, Coletivo Bijari, Cia. Cachorra, Palumbo, André Abujamra, Camilo Rocha, Záfrica Brasil, Wilson Sukorski, Rachel Rosalem, Verônica Cordeiro.
Desde 1999 faz parte do Grupo Afro Ilú Oba de Min como MC, compositora e cantora, trazendo para as ruas, um dos cortejos carnavalescos mais respeitados de São Paulo. Seu trabalho de artista consiste na pesquisa da diversidade cultural e étnica que compõe nosso país, nas dificuldades que as periferias e os excluídos e marginalizados, sempre enfrentaram na sociedade, e a difusão e memória da nossa Cultura Afro-Brasileira.
Serviço
CINEMA BRASILEIRO NA REGIONAL PAULISTA
FILME: TRAGO COMIGO
DIA: 23 DE JUNHO – QUINTA-FEIRA – 19hs
LOCAL: Regional Paulista do Sindicato dos Bancários
ENDEREÇO: Rua Carlos Sampaio,305
PONTO DE REFERÊNCIA: – Próximo metrô Brigadeiro
RESERVAS DE CONVITES: Pessoalmente na Regional ou por e-mail producaocineb@brazucah.com.br