Debate com Anna Muylaert na Regional Paulista

O CINEB exibiu na última sexta-feira, 5/8, na Regional Paulista, o longa Mãe Só Há Uma, que está em cartaz no circuito comercial. Ao final da sessão, a diretora do filme, Ana Muylaert participou de um debate com uma plateia bastante interessada.

O espaço cultural Lelia Abramo, que fica na Regional Paulista do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região ficou pequeno, na última sexta-feira, 5/8, para receber as mais de 180 pessoas que compareceram à exibição do longa metragem Mãe Só Há Uma, da cineasta paulistana Anna Muylaert. Mesmo concorrendo com a abertura das Olimpíadas Rio 2016, a sessão foi uma das mais cheias no local em nove anos de projeto.

Um dos maiores públicos em 9 anos de sessão do CINEB na Regional Paulista.

O filme, que está em cartaz no circuito comercial em São Paulo, é livremente inspirado no caso real do menino Pedrinho, que parou o Brasil em 2002. Conta a história de Pierre, um adolescente que, aos 17 anos, descobre que foi roubado, recém-nascido, na maternidade pela mulher que o criou a vida toda e a quem ele chama de mãe. Após denúncia anônima, o adolescente é obrigado a fazer um teste de DNA e a trocar de família, de nome, de casa, de escola, em meio a seu processo de individuação.

Sessão teve transmissão ao vivo pela página do CINEB no Facebook.

“O tema principal do filme é identidade, formação de identidade… eu acho que é uma metáfora para todo adolescente, quando ele troca de pele da infância para a vida adulta, e é nesse momento que há um embate com os pais” explica Anna Muylaert, sobre a situação vivida pelo personagem principal. A sessão contou com a presença da cineasta e do ator Danilo Botelho, que faz o papel do irmão de Pierre, o protagonista do filme. “É um projeto incrível, porque o circuito comercial é muito restrito, só tem blockbuster, e as pessoas não têm tanto acesso ao cinema que reflete, que traz o debate, então é um trabalho de formiguinha, muito importante, o que o CINEB faz”, comentou a cineasta antes do início do debate.

EE Herbert Baldus, que fica no Grajaú, fretou ônibus para levar alunos à sessão do CINEB: acesso à cultura

Botelho, contou como foi selecionado para Mãe Só Há Uma, aos 13 anos de idade. “O principal estopim para eu poder ter participado desse longa foi meu trabalho no filme Os Amigos, de Lina Chamie, com Dira Paes. A partir daí, conheci a produtora de elenco do filme, que estava envolvida com o trabalho da Anna, fiz uma demo [gravação de uma cena] e fui o primeiro ator a ser selecionado”, lembrou o jovem que agora tem 15 anos e mora na Zona Sul com os pais.

Não faltou a saborosa pipoca de Seu Antonio, aniversariante do dia.

Os alunos do Ensino Médio da Escola Estadual Herbert Baldus, que fica no Grajaú, também Zona Sul, deixaram sua rotina de sala de aula e participaram da sessão e do debate. A escola fretou um ônibus para leva-los até a região da Paulista. “Os alunos terão contato com um objeto cultural de extremo valor que é o cinema nacional de qualidade. Além disso vão poder conhecer a diretora do filme” explicou o professor de história, Kleber Oliveira da Natividade. Ele conta que a escola realiza um cine-debate toda semana. Organizado pelo produtor cultural e estudante de cinema, Thiago Pinheiro, também presente na sessão, o projeto se chama Faça a Coisa Certa, nome do longa mais conhecido do cineasta negro norte-americano Spike Lee. “A gente faz reuniões, e escolhe a temática e o filme, para discutir com os estudantes aquilo que normalmente não conseguimos debater na sala de aula”, explica Pinheiro. “Nós gostamos muito do trabalho que vocês fazem e queremos ter o CINEB lá na escola”, terminou.

Marcelo Gonçalves, diretor de Cultura do Sindicato dos Bancários e Cidálio Vieira Santos, coordenador do CINEB, fazem a abertura oficial da sessão.

Segundo o coordenador do CINEB, Cidálio Vieira Santos, o pedido da escola é válido, porque foi a primeira vez que uma escola vem a uma sessão no centro com um ônibus cheio de alunos. “Vocês vieram até aqui, agora nós vamos até vocês” garantiu.

 

O ator Danilo Botelho, o coordenador do Cine B Cidálio Vieira Santos e a diretora Anna Muylaert.

Anna Muylaert durante o debate.

Alunos e professores do Centro de Educação de Jovens e Adultos (CIEJA) Aluna Jéssica Nunes Herculano, no Butantã, Zona Oeste, também participaram da sessão. Segundo o professor de história Sérgio Tenório, “o astral do CINEB é muito bom e a proposta de levar o cinema brasileiro para quem não têm acesso é um diferencial” avaliou.

 

Por mais de uma hora, público conversou com a diretora do filme Mãe Só Há Uma.

O debate com Anna Muylaert e Danilo Botelho, intermediado por Cidálio durou cerca de uma hora. Ana respondeu várias perguntas do público sobre sua trajetória, a repercussão nacional e internacional de seus dois últimos filmes –  Mãe Só Há Uma e Que Horas Ela Volta? – e o papel da mulher como protagonista do mercado cinematográfico. “São cerca de 15 a 20% de mulheres atrás das câmaras. A gente quer o direito de ser líder. A mulher cansou desse lugar de assistente”. Em outro momento, Ana lembrou que já sentiu o preconceito do mercado cinematográfico por conta de Que Horas Ela Volta? ter feito tanto sucesso. “Os homens de cinema simplesmente não aceitam que uma mulher passe a ter poder, a concorrer com eles”.

Ao final do debate, um momento para a sessão de fotos com a diretora.

Muitos acompanharam o debate até o fim. Entre eles Sergio Benfica Barbosa Machado, 17 anos, que mantém um canal no Youtube sobre a sétima arte chamado A Vida do Bem. “Quero ser cineasta, e estou lançando meu segundo curta metragem no próximo dia 15. Faz três anos que acompanho o trabalho do CINEB e vocês estão de parabéns por trazer a Ana Muylaert para um debate”, finalizou.

Professores e alunos do CIEJA Aluna Jéssica Nunes, do Butantã.

Para Marcelo Gonçalves, Diretor de Cultura do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região é sempre bom ver a casa cheia, principalmente de jovens. “A cultura tem sido um espaço de diálogo, mobilização e resistência contra a ameaça à democracia que vivemos. O debate é fundamental para enfrentarmos tantos ataques aos avanços sociais desferidos por um governo ilegítimo como o de Temer”, avalia. A sessão contou ainda com a presença de Luiz Cláudio Marcolino, diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf) e idealizador do CINEB, além de representantes de ONGs e associações parceiras do CINEB.

Professores e alunos da EE Herbert Baldus. Até a próxima sessão!

O CINEB é um circuito itinerante de cinema realizado pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e pela Brazucah Produções. Desde 2007, o já atingiu um público superior a 50 mil espectadores em quase 400 sessões gratuitas realizadas em comunidades e universidades de São Paulo. A iniciativa busca democratizar o acesso ao cinema nacional e divulgar os filmes produzidos no Brasil. Já foram exibidos na tela do CINEB mais de 75 longas-metragens e 50 curtas-metragens, além da realização de pré-estreias exclusivas.

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