Quase não havia espaço para caminhar entre as fileiras de cadeiras colocadas no espaço Lélia Abramo, na última quinta-feira, 27/10. O auditório e espaço cultural da Regional Paulista do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região recebeu, pela quinta vez no ano uma sessão especial do CINEB – desde abril foram exibidos os filmes Betinho – A Esperança Equilibrista, Chico – Artista Brasileiro, Traga Comigo e Mãe Só Há Uma. Dessa vez, o filme em cartaz foi Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, estrelado por Sônia Braga e que está em cartaz no circuito comercial.
O longa-metragem conta a história de uma jornalista pressionada a deixar seu apartamento, localizado no Condomínio Aquarius, na avenida Boa Viagem, Recife/PE, porque empreendedores querem derrubar o prédio para construir um arranha-céu em frente ao mar. Viúva e dona de um aconchegante espaço repleto de discos e livros, ela vai representar a resistência daqueles que lutam por um estilo de vida que já não atende aos interesses do mercado imobiliário nos grandes centros brasileiros.
A sessão especial atraiu universitários e movimentos sociais, além de convidados e pessoas que acompanham de longa data as sessões do CINEB na Regional. Destacava-se o Movimento Ocupa & Abrace, da Pompéia, alunos e professores da Escola Estadual (EE) Herbert Baldus, do Grajaú, integrantes do Centro de Acolhida Zancone, da Vila Leopoldina, além de integrantes da Associação de Moradores da Vila Rica. As 170 pessoas representaram o segundo maior público da história do CINEB na Regional Paulista, perdendo apenas para a pré-estreia do filme Raul – O início, Fim e o Meio, exibido em 2012.
Rosana Frenck, Flávia Lemos e Fernanda Capegiani, do Movimento Ocupe & Abrace, que atua na defesa e recuperação da praça Homero Silva, que o grupo carinhosamente rebatizou como Praça da Nascente, contam que desde 2013 a comunidade luta para que a praça de 12 mil m² mantenha atividades de foma permanente e seja ocupada pela comunidade. “Em 2013 fizemos o reconhecimento do local, descobrimos que havia oito nascentes e fizemos o primeiro festival de cultura. Hoje estamos no oitavo”, conta Flávia. O grupo lembra, ainda, que a mobilização das pessoas trouxe investimentos públicos como a recuperação do muro de arrimo que ameaçava desabar sobre as casas vizinhas, além do engajamento das pessoas em defesa das nascentes do bairro.
Já os alunos da EE Herbert Baldus chegaram em um ônibus fretado poucos minutos antes do início da sessão. Levaram quaase duas horas para fazer o trajeto entre a Zona Sul e o Centro. Essa foi a segunda vez que a escola levou seus alunos até a Regional Paulista. O CINEB também esteve na escola em setembro para exibir Gonzaga, De Pai para Filho. “A parceria é ótima para a gente. A gente fica na periferia, isolado, e as parcerias são fundamentais para que os alunos participem das atividades culturais da cidade”, explica Thiago Pinheiro, estudante de cinema e coordenador do projeto de cineclube da escola. Para o professor de história, Kleber Oliveira Natividade a parceria “promove uma qualidade na formação dos alunos e até dos professores que vêm à sessão”, pondera.
Na Regional Paulista, o CINEB estreou uma novidade: uma pulseira numerada que vai facilitar contar o público presente em cada sessão e vai ajudar no sorteio dos brindes oferecidos em casa sessão. Após exibição do filme, o padre Dimas Martins Carvalho, do Santuário Nossa Senhora da Paz, em Itaquera, frequentador das sessões do Centro confessou: “foi o melhor filme que eu vi nos últimos vinte anos, uma metáfora do que fizeram com Dilma Rousseff no Brasil”. A paróquia do Santuário Nossa Senhora da Paz é um dos espaços que receberá, uma sessão do CINEB em novembro.
Bruna Constância Nascimento Vicente aluna do primeiro ano de ciências sociais da Unifesp, em Guarulhos, elogiou o longa: ”Eu recebi um e-mail, vi que era Aquarius, um filme que todo mundo está falando bem, e eu falei porque não? Assisti e ainda estou digerindo, porque achei o filme muito forte, impactante”, comenta. Ela recordou que foi pela primeira vez numa sessão do CINEB em dezembro do ano passado quando a Regional Paulista exibiiu o filme Que Horas Ela Volta? de Anna Muylaert.
Marcelo Gonçalves, diretor de cultura do Sindicato explicou na abertura da sessão que os bancários acabaram de sair “de uma das greves mais longas de sua história”. Sobre o filme, ele lembrou da repercussão internacional que o filme teve por conta da manifestação do diretor e elenco contra o processo de impeachment da presidenta Dilma durante Festival de Cannes, na França, em maio deste ano. “Agora, o filme é muito bom, ele fala da resistência diante de uma direita que não tem escrúpulo, atrasada, arcaica e entreguista”, finaliza.
O CINEB é um circuito itinerante de cinema realizado pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e pela Brazucah Produções. Desde 2007, o já atingiu um público superior a 50 mil espectadores em quase 400 sessões gratuitas realizadas em comunidades e universidades de São Paulo. A iniciativa busca democratizar o acesso ao cinema nacional e divulgar os filmes produzidos no Brasil. Já foram exibidos na tela do CINEB mais de 75 longas-metragens e 50 curtas-metragens, além da realização de pré-estreias exclusivas.