Cine B esteve na Associação dos Moradores da Vila Rica, na Zona Leste, na última sexta-feira (18/11), para exibir De Onde Eu Te Vejo, de Luiz Villaça.
Foi uma sessão para reencontrar velhos amigos. A Associação dos Moradores da Vila Rica, localizada na região do Aricanduva, Zona Leste de São Paulo, é uma das comunidades que mais recebeu o Cine B em toda sua história. Foram 12 sessões desde a primeira vez que o projeto esteve por lá. Na última sexta-feira (18/11) não foi diferente: uma boa recepção à produção e uma preocupação com a oferta de cultura para a comunidade.
Em cartaz o longa-metragem De Onde Eu Te Vejo, de Luiz Villaça, e o curta metragem Graffiti Dança, de Rodrigo EBA! O longa, protagonizado pelos atores Denise Fraga e Domingos Montagner, conta a história de amor de um casal através de sua separação. Em meio a uma São Paulo em constante mudança e efervescência cultural, Ana Lúcia e Fábio se separam após 20 anos de casamento e ele passa a viver no apartamento do outro lado da rua. Eles terão que aprender a viver a nova realidade – a separação, a crise no trabalho e a mudança de cidade da filha – e perceberão que no meio da confusão da vida moderna é possível reinventar uma nova forma de amar. Completando o elenco do filme estão Marisa Orth, Juca de Oliveira, Laura Cardoso, Fúlvio Stefanini, Marcelo Airoldi, Laila Zaid e Manoela Aliperti. A produção é de 2016.
A sessão começou com a exibição do curta, lançado em 2013, que ganhou o prêmio de Melhor Curta Brasileiro pelo Júri Popular na edição São Paulo do Festival Anima Mundi. A produção, em stop motion, apresenta pintura realizadas especialmente para o filme e que permanecem ainda hoje nos muros de São Paulo. A realização é do coletivo Graffiti com Pipoca, que trabalha com grafitti e animação desde 2005.
Após o curta, Bia Moreno, presidente da Associação prestou homenagem ao Dia da Consciência Negra e fez a leitura do poema Zumbi dos Palmares da escritora e poetisa Cintia Amorim, que pode ser acessado aqui, mas que o blog tem a honra de reproduzir:
Zumbi dos Palmares – poema sobre a consciência negra
Forte e bravo guerreiro,/ amigo da liberdade,/ defendia o seu povo,/ com alegria e coragem.
Roubado ainda pequeno,/ do quilombo em que nasceu,/ foi dado de presente:/ um padre o recebeu.
Educado com carinho,/ era muito inteligente,/ e guardou no coração/ sua origem e sua gente.
Ao ver seus pobres irmãos/ tão tristes, escravizados,/ sonhou com outro mundo/ onde fossem respeitados.
Fugiu adolescente,/ do padre se despediu/ e, em busca de seu sonho,/ com esperança partiu.
Andando pela mata/ encontrou o seu lugar,/ protegido no quilombo/ do qual ouvira falar.
Zumbi era seu nome./ Esse guerreiro valente/ logo se tornou líder/ do quilombo e sua gente.
Brigou com Ganga Zumba/ pelo que acreditou,/ e, por anos a fio,/ a Palmares governou.
Muitas batalhas sangrentas/ com bravura resistiu,/ mas foi um bandeirante/ quem seu sonho destruiu.
Vencido e traído,/ teve a cabeça cortada./ Em vinte de novembro/ sua derrota foi selada.
Mas seu sonho permanece/ inspirando o coração/ que busca igualdade/ e uma justa nação.
Hoje Zumbi dos Palmares/ justamente é lembrado,/ seu sonho e bravura/ serão sempre celebrados.
Hoje o bravo guerreiro/ é lembrado como herói/ de um povo que acredita/ que um sonho se constrói!
Bia explicou que a ideia de ler o poema foi uma forma de marcar a data que na sua opinião é uma das mais importantes do país. “Sou descendente de negros e sei o quanto o racismo e a exclusão ainda atinge a população negra do país”. Opinião compartilhada na abertura oficial da sessão por Marcelo Gonçalves, diretor de Cultura do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região. “Hoje nós estivemos no centro de São Paulo conversando com as pessoas sobre a importância dessa data, e a importância da população negra estar representada em todas as áreas. Neste ano, nós, bancários, fizemos uma homenagem à escritora negra Carolina Maria de Jesus, que deixou uma obra de grande relevância, mas pouco lembrada”, comentou.
Em seguida foi exibido o filme que emocionou as 60 pessoas que compareceram à sessão. Elza de Assis Antonio estava acompanhada do filho, Marco Aurélio de Assis Antonio, aluno do EJA – Educação de Jovens e Adultos da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Roquette Pinto falou que sempre acompanha as sessões do Cine B. “É uma iniciativa sensacional e os filmes são ótimos”, opina.
Já Neuza Lombardi, feliz por ganhar uma camiseta do do projeto antes de iniciar a sessão, lamentou a perda do ator Domingos Montagner, protagonista do filme: “um homem daquele morrer dá dó”, comentou. Montagner morreu afogado no Rio São Francisco no intervalo das gravações da novela Velho Chico, da Rede Globo, em setembro.
Também esteve presente na sessão o bancário Luiz Cláudio Marcolino, um dos idealizadores do Cine B quando era presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo. Atualmente Marcolino é diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf).
O CINEB é um circuito itinerante de cinema realizado pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e pela Brazucah Produções. Desde 2007, o já atingiu um público superior a 54 mil espectadores em mais de 400 sessões gratuitas realizadas em comunidades e universidades de São Paulo. A iniciativa busca democratizar o acesso ao cinema nacional e divulgar os filmes produzidos no Brasil. Já foram exibidos na tela do CINEB mais de 75 longas-metragens e 50 curtas-metragens, além da realização de pré-estreias exclusivas.