“Pequeno Segredo” emociona público na Água Funda

Público elogia o trabalho de David Schürmann, diretor do longa Pequeno Segredo, que participou, na última quinta-feira (20/4) de um bate papo na Associação dos Moradores Amigos da Água Funda (AMAAF).

A Associação dos Moradores Amigos da Água Funda (AMAAF) abriu as portas da entidade na última quinta-feira, 20/4, véspera do feriado de Tiradentes, para um evento prá lá de especial: uma sessão do Cine B com o filme “Pequeno Segredo”, que fez grande sucesso no cinema comercial no final do ano passado e emocionou o público presente ao Cine B. Após a sessão, o diretor do longa, David Schürmann, participou de um bate papo e, por mais de uma hora, contou aos moradores detalhes das gravações e da história real de sua irmã adotiva em que o filme foi baseado.

Antes de começar a sessão, o público saboreia a pipoca de Seu Antonio.

“Pequeno Segredo” narra a vida de uma menina e três mulheres que compartilham um segredo. Histórias de amor, família, felicidade e frustração são interligadas por um único e “Pequeno Segredo”, que o filme revela a partir da metade da história. Um filme surpreendente e inspirador, que segundo o diretor demorou seis anos para ficar pronto.

Isabel Graciana Mendes dos Ramos, presidente da AMAAF.

Para a presidente da AMAAF, Isabel Graciana Mendes dos Ramos, a primeira vez que o Cine B esteve na entidade, em novembro do ano passado, repercutiu bastante entre os associados e frequentadores dos projetos de cultura. “Várias pessoas, depois da sessão, me encontravam na rua e perguntavam quando o Cine B voltaria”, relembrou. Isabel contou, antes da sessão, que a expectativa era grande por conta do bate-papo com o diretor do longa: “É uma oportunidade única que a comunidade têm de estar próximo a um diretor e saber como tudo isso acontece, porque é fácil ver na tela pronta, mas o que acontece nos bastidores é difícil de imaginar”.

Emily, professora de canto coral, Luiza, diretora da AMAAF, Maria Luciana, frequentadora do espaço e Analu, também diretora da associação.

A AMAAFF oferece diversas atividades culturais como oficinas de teatro, dança e canto coral, além de ginástica e oficinas de informática. Daniela Bontempi, arte-educadora e professora de teatro no espaço, foi uma das responsáveis por levar o Cine B para a associação: “percebi a importância de trazer o Cine B para esse lugar, que tem uma carência cultural e onde as pessoas se interessam por novidades”, explicou.

Muitos jovens presentes na sessão.

Irene Luchesi, de 81 anos, moradora da Vila Guarani é um exemplo. Ela adora uma novidade e estava lá para assistir ao filme e conhecer o diretor. Foi à sessão acompanha pelo vizinho, Mario Ferreira Ramos. “A gente anda junto por causa da segurança”, confessou. Diz que trabalhou na associação mas hoje somente frequenta as aulas de zouka, dança e participa semanalmente do baile que a entidade promove. “Eu assisti ao outro filme [“De Onde Eu Te Vejo”, exibido ano passado] e adorei. Não podia perder o de hoje”, comentou.

Irene Luchesi, de 81 anos com o vizinho Mario Ferreira Ramos: "não podia perder"

Na abertura oficial, ao lado do coordenador do Cine B, Cidálio Vieira Santos, Isabel lembrou que as pessoas estão deixando de ir ao cinema, principalmente aqueles de porta para a rua. “Os cinemas do Centro praticamente acabaram”, lamentou. “Por isso acreditamos nesse projeto. Ele reúne as pessoas, como antigamente os cinemas faziam”, enfatizou.

Na abertura oficial da sessão, Isabel, Cidálio Vieira Santos e Daniela Bontempi.

“Pequeno Segredo” que segurou o público presente, cerca de 80 pessoas” até o fim da sessão. O diretor David Schürmann chegou à AMAAF pouco antes do filme terminar. Ele contou que estava animado com a possibilidade de conversar com o público. “Eu tive meu primeiro filme ‘O Mundo em Duas Voltas’, exibido no Cine B mas não tive a oportunidade de conhecer o projeto naquele momento”, explicou.

O Cine B é um evento para as famílias das comunidades de São Paulo.

Ao final da sessão, a produção do Cine B montou uma mesa com Schürmann, Daniela Bontempi e Cidálio. O público presente demonstrou muito interesse em conhecer mais detelhes sobre a história real de Kat e como David encarou contar a história da irmã adotiva, que foi infectada pelo vírus da Aids depois de uma transfusão de sangue no início dos anos 1990, quando o tratamento a base de coquetéis estava começando a surtir efeito.

Moradores participaram do debate com muitas perguntas.

Foi mais de uma hora de depoimentos emocionantes, tanto de David, quanto do público presente que não arredou o pé até o fim do bate-papo, elogiando o filme e a luta da mãe adotiva de Kat, Heloísa Schürmann, mãe do cineasta, na luta em defesa da filha.

Para a assistente social Ana Lúcia dos Reis Conceição que esteve pela segunda vez em uma sessão do Cine B, o filme contém uma mensagem política muito forte. ”Além do amor, o filme traz para o debate uma questão social importante. Acho que todo mundo deveria assistir. Inclusive convidei muita gente do bairro, mas infelizmente não são todos que estão abertos  para ter esse tipo de contato e esse tipo de debate. Achei muito rico contar com a presença do diretor, e maravilhoso o trabalho do Cine B. Eu apoio e gostaria que viesse sempre”, finalizou.

Marcelo Custódio Saraiva, mensageiro motociclista e morador da região, que esteve pela primeira vez numa sessão do Cine B, comentou que ficou com uma ótima impressão do projeto e elogiou bastante a qualidade do filme. “Para mim, o personagem principal do filme é o amor, que transcede qualquer barreira. […] Atravessa parede de presídio, atravessa o oceano. E esse amor que o filme passou vai atravessar gerações. Porque o maior exemplo de doação que existe é aquele de quem doa seus dias de velhice, como aconteceu com os pais do David. Minha vida vai ser antes e depois desse filme”, abriu o coração, emocionado. Já para Gabriel Malentac, de 10 anos, que estava acompanho dos pais, da vó e da irmã, e foi um dos que questionou o cineasta, o filme foi “comovente”. “É uma história real e tem uma morte nela, e isso dói um pouco o coração”, refletiu.

Ao final do debate, Schürmann agradeceu o interesse e a participação público. “O Cine B é uma iniciativa maravilhosa porque o povo está ali sentindo o filme, vivendo o filme e a gente tem a chance de responder as perguntas que ficam na cabeça das pessoas”, concluiu.

O CineB é um circuito itinerante de cinema realizado pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e pela Brazucah Produções. Desde 2007, o já atingiu um público superior a 56 mil espectadores em mais de 430 sessões gratuitas realizadas em comunidades de São Paulo. A iniciativa busca democratizar o acesso ao cinema nacional e divulgar os filmes produzidos no Brasil. Foram exibidos na tela do CineB mais de 100 longas-metragens e 69 curtas-metragens, além da realização de pré-estreias exclusivas.

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