O CineB esteve no último sábado, 19/8, no Condomínio Santiago, que integra o Conjunto Habitacional América do Sul, localizado na região do Grajaú, Zona Sul de São Paulo. Em cartaz, o documentário “Doméstica”, de Gabriel Mascaro.
Em 2014, existia em frente ao CEU Três Lagos, localizado na região do Grajaú, Zona Sul de São Paulo, um grande terreno vazio. Hoje, três anos depois, a área foi ocupada por 1.188 apartamentos divididos em sete condomínios que formam o Conjunto Habitacional América do Sul. Uma iniciativa do ex-prefeito Fernando Haddad (PT), que uniu governos municipal, estadual e federal para construir um dos maiores conjuntos habitacionais da cidade de São Paulo. O conjunto começou a ser entregue este ano. Em maio, 168 famílias de diversas áreas de mananciais da zona Sul como Prainha, Rio Bonito e Lago Azul, deixaram de receber o bolsa-aluguel e puderam entrar em seus apartamentos no Condomínio Santiago, um dos sete que formam o conjunto habitacional.
Quem levou o CineB até o condomínio foi Jacqueline Suzan Jesus de Souza, presidenta do Conselho do Condomínio Santiago. Ela conta que foi Luiz Cláudio Marcolino, atual diretor da Confederação de Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf) e um dos idealizadores do projeto quando era presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região que falou pela primeira vez do CineB. “Eu me interessei e perguntei se tinha a possibilidade de trazer aqui para nossa comunidade. O local é maravilhoso, mas não tem nada. E o CineB é uma forma de sair da rotina”, explica.
Jacqueline conta que ao chegar no condomínio, achou que encontraria muitas atividades culturais no CEU Três Lagos. “Mas tudo o que havia de cultura aqui foi interrompido. Eu entrei como conselheira gestora do CEU justamente para tentar trazer atividades, […] porque acho que a gente só pode mudar o país com educação, cultura, artes, conhecimento, finaliza.
No Jardim Belcito o CineB estreou um novo filme: “Doméstica”, documentário com roteiro e direção de Gabriel Mascaro. O filme, lançado em 2012 é um registro do cotidiano do trabalho doméstico a partir do registro feito por sete adolescentes, que registraram, por uma semana, empregadas domésticas de suas casas. Eles entregaram o material bruto para o diretor Gabriel Mascaro que realizou um filme com essas imagens. Entre o choque da intimidade, as relações de poder e a performance do cotidiano, o filme lança um olhar contemporâneo sobre o trabalho doméstico no ambiente familiar e se transforma num potente ensaio sobre afeto e trabalho.
Nem a chuva e o frio representaram problema para os moradores do condomínio, principalmente as crianças, saírem de seus apartamentos e ir até o salão de festas, que por uma noite se transformou numa sala de cinema. A sessão começou com a exibição do curta “Historietas mal-assumbradas” (2010) uma animação de Victor-Hugo Borges sobre histórias assustadoras da cultura popular, que integrou o primeiro DVD do Selo CineB do Cinema Brasileiro.
Na abertura oficial, Marcolino lembrou que o CineB se consolidou ao longo dos 10 anos como um dos principais projetos sociais do Sindicato dos Bancários de São Paulo, mas que a entidade busca sempre ampliar o diálogo com a comunidade. “Estamos investindo num projeto de formação cidadã, para levar às comunidades informações sobre os direitos sociais garantidos pela legislação brasileira, como no caso do câncer, que quando detectado, deve ter o tratamento iniciado em até 60 dias. Muitas pessoas não sabem disso”, exemplifica.
Ao final da sessão, cinco moradoras contaram que em algum momento da vida foram empregadas domésticas. Irailda Andrade Pereira dos Santos é empregada há mais de 40 anos e se identificou muito com o filme. “Hoje eu sou diarista, mas trabalhei por muitos anos como mensalista, na casa de uma única família”, explica. Ela conta que como diarista o retorno é melhor, mas não conta com direitos como qualquer outro trabalhador”. Já Terezinha Alves dos Santos lembra que começou a trabalhar como babá aos 10 anos. “Trabalhei até os 18 anos, depois casei e meu marido não deixou mais trabalhar”, recorda. Todas ganharam um livro doado pela ONG Éh Aqui, uma parceira que funciona como uma facilitadora na doação de livros, visando democratizar o acesso à leitura.
Para Kátia Firmino, síndica do conjunto, o CineB é uma novidade, porque “tem pessoas que nunca conheceram o cinema e hoje eles estão conhecendo”, comenta. É o caso de Cleiton Silva dos Santos, recém-chegado do Recife/PE. Ele nunca havia entrado numa sala de cinema em sua cidade natal. “Cheguei dia 17, vim de lá atrás de trabalho e estou morando com o meu tio”, relata.
O CineB é um circuito itinerante de cinema realizado pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e pela Brazucah Produções. Desde 2007, o já atingiu um público superior a 56 mil espectadores em mais de 430 sessões gratuitas realizadas em comunidades de São Paulo. A iniciativa busca democratizar o acesso ao cinema nacional e divulgar os filmes produzidos no Brasil. Foram exibidos na tela do CineB mais de 100 longas-metragens e 69 curtas-metragens, além da realização de pré-estreias exclusivas.