Após a exibição do documentário “Nega Que É Nega Não Nega Ser Nega Não!” na última quarta-feira, 13/9, na UniSant’Anna, Zona Norte de São Paulo, o CineB organizou debate com o diretor do filme e convidados.
Os alunos de pedagogia, geografia, história, educação física e arquitetura da UniSant’Anna, localizada na Zona Norte de São Paulo, participaram, na última quarta-feira, 13/9, de uma sessão especial do CineB, que exibiu o documentário “Nega Que É Nega Não Nega Ser Nega Não!”. Na sequência participaram de um debate Fábio Nunez, diretor do filme, Julio César Silva Santos, diretor e coordenador do Coletivo de Combate ao Racismo do Sindicato dos Bancário de São Paulo, Osasco e Região, a poetisa e ativista cultural Tula Pilar, Shirley Maia, integrante do Coletivo Dia de Nega e o professor Jonatas Silva, coordenador do curso de pedagogia da faculdade.
“Nega Que é Nega Não Nega Ser Nega Não!” (2016) tem roteiro e direção de Fábio Nunez. O filme, inspirado na música de mesmo nome do próprio Fábio Nunez e Jacson Matos, apresenta a pluralidade e a força do universo negro feminino. Mulheres de todos os segmentos sociais e profissionais, referência para futuras gerações e grandes exemplos de resistência e luta contra os persistentes processos de machismo, racismo e exclusão deram seus depoimentos sobre suas trajetórias de vida, o pensam e como vêem os processos de exclusão e racismo no Brasil.
Para Santos refletir, através do cinema, o quanto a sociedade brasileira é racista é de “primordial importância. Então, quando nós trazemos para os bancos escolares um tema como esse, uma questão tão emblemática de nossa sociedade, é fundamental, para que nós tenhamos cidadãos cada vez mais conscientes dos seus direitos e da necessidade da luta pela igualdade de oportunidades”, comenta. No debate, Santos lembrou, ainda, do Senso da Diversidade na categoria bancária, feita em 2004 e 2014 e que aponta que apenas 2,77% dos bancários de todo o país são pretos e 18,04% são pardos. “A democracia racial não existe, vivemos 129 de uma abolição inacabada”, comentou.
Shirley, que aparece no filme e trabalha na ONG Grito dos Excluídos, que atua na Fundação Casa, lembrou que o negro é a principal vítima da violência nas cidades. “Os meninos negros, de pela mais escura, são as maiores vítimas. Estão sendo chacinados”, revela. E continua: “falar disso [do racismo] no Brasil é extremamente difícil, porque as pessoas brasileiras se consideram não racista, porque acham que isso é uma coisa que acabou em 1888 e não existe mais”, finaliza.
O debate, mediado pelo coordenador do CineB, Cidálio Vieira Santos, durou mais de uma hora e contou com a participação de alunos e professores que questionaram sobre o ensino da cultura e história afro-brasileira nas escolas e as manifestações culturais de matriz africana.
Rodrigo Dias de Paiva, estudante de pedagogia achou a iniciativa “fenomenal”. “Sou artista, músico, capoeirista, vivo da cultura popular brasileira, sou um disseminador da cultura negra e acho que mais lugares precisam praticar isso, porque eu vejo que tem uma escassez de relexão sobre isso”, apontou.
Para a professora Suzana Soz, diretora acadêmica-pedagógica da faculdade, “a discussão que o CineB traz sempre continua nas salas de aula e corrobora com nossas disciplinas. Foi ótimo porque o debate traz na prática aquilo que a gente discutte na teoria”, destaca.
O professor Jonatas, responsável por organizar a atividade na universidade elogiou a iniciativa do Cine B e do diretor do filme, “que acreditou em um sonho e com seus próprios recursos, fez um trabalho espetacular”. Para ele, o debate “faz refletir sobre o papel da mulher negra na sociedade, assim como o racismo e preconceito com toda a minoria”, finaliza.
O CineB é um circuito itinerante de cinema realizado pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e pela Brazucah Produções. Desde 2007, o já atingiu um público superior a 60 mil espectadores em mais de 450 sessões gratuitas realizadas em comunidades de São Paulo. A iniciativa busca democratizar o acesso ao cinema nacional e divulgar os filmes produzidos no Brasil. Foram exibidos na tela do CineB mais de 100 longas-metragens e 69 curtas-metragens, além da realização de pré-estreias exclusivas.