Maior ocupação do MTST em SP exibe “Encantados”

Filme de Tizuka Yamazaki foi a atração na Ocupação Vila Nova Palestina, Zona Sul da capital, no último sábado, 28/7. Sessão foi totalmente realizada com energia solar.

Cinema ao ar livre pela primeira vez na ocupação Vila Nova Palestina.

 

No extremo sul da cidade de São Paulo fica a maior ocupação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) na capital, conhecida como Vila Nova Palestina, que existe desde 2012 e conta com mais de 2.000 famílias que lutam por uma moradia digna na maior cidade da América do Sul.

No último sábado, 28/7, o CineB Solar esteve lá, para exibir, ao ar livre, sob a luz da Lua que ainda brilhava vermelha no céu do Brasil, sua mais nova atração da temporada, o longa-metragem “Encantados”, da cineasta Tizuka Yamazaki (Gaijin – Caminhos da Liberdade). O projeto foi muito bem recebido pelo Povo Sem Medo, que acompanhou a sessão que foi montada bem ao lado do barracão da coordenação.

Raissa, Daiana, Fernanda e Nicolas entre outras crianças e adolescentes na biblioteca da Ocupação, que fica no barracão da coordenação do movimento.

O filme de Tizuka conta a história de Zeneida (Carolina Oliveira) uma das filhas de um importante político do Pará. Com mais dez irmãos, ela se destaca por seu jeito atrevido, perseverante e teimoso. Sensitiva, vê e escuta coisas que mais ninguém enxerga ou ouve, e após se mudar para a Ilha do Marajó fica encantada com Antônio (Thiago Martins), figura misteriosa que encontra nas andanças pela propriedade da família. A paixão pelo estranho e a intimidade com a natureza não são vistas com bons olhos por seus pais e a rebelde jovem passa a enfrentar um grande conflito dentro de casa ao ser considerada lunática.

Jussara Basso, coordenadora do MTST em São Paulo, elogiou a iniciativa do Sindicato dos Bancários de São Paulo em parceria com a Brazucah Produções por organizar, através de Alberto Trindade, liderança de movimentos populares na região do M’Boi Mirim, uma sessão na ocupação. “O acesso ao cinema é muito precário na periferia, muitas pessoas nunca foram numa sala de exibição. Eu acho muito bonito esse trabalho e achei importantíssimo essa interação”, comenta. Ela conta que uma ONG da capital está realizando um curso de cinema comunitário com os jovens do MTST, para “desenvolver um documentário pensado por eles falando a história da ocupação”, destacou.
O barracão da coordenação, bem ao lado da sessão montada pelo CineB Solar já foi espaço para sessões de cinema e hoje conta com uma biblioteca com centenas de livros para crianças e estudantes.

A abertura oficial da sessão com Juliana Basso, Luiz Claudio Marcolino e Cidálio Vieira Santos, coordenador do CineB Solar.

Para Luiz Claudio Marcolino, diretor da Confederação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf) e idealizador do projeto no período em que foi presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, esse tipo de ação sempre foi o intuito do CineB, agora Solar. “Fazer parcerias com os movimentos sociais, levar a cultura, o cinema nacional para a população que vive com dificuldade, que não tem acesso, a assistir o cinema nacional”, resume. Marcolino lembra que o trabalho sociocultural realizado nos últimos dez anos se uniu ao trabalho ambiental com a adoção da energia solar nas sessões realizadas pelo projeto.

Uma van adaptada com placas fotovoltaicas sobre o teto, conversores e baterias transformam a energia do sol captada durante o dia em energia elétrica para fazer funcionar todo o sistema de imagem e som e iluminação do CineB Solar à noite. Na sessão, o sistema foi apresentado ao público, que pode entrar na van e conhecer como tudo funciona.

Caroline dos Santos com os filhos Gabriel (colo), Laís e Érica: pela primeira vez numa sessão de cinema.

Antes da abertura oficial da sessão, o público assistiu a animações com temática ambiental. Para Macela Pereira, que mora desde 2017 na ocupação, é “muito bacana essa ideia de levar o cinema para várias comunidades da cidade. Não são todas as pessoas que têm acesso, que podem ir ao cinema. É legal também porque o filme é nacional e mostra mais sobre a nossa cultura”, reflete.

Após a sessão, o público pode comentar sobre a história do filme, como foi o caso de Jussara, que lembrou que o país “tinha mais de 500 tribos antes da invasão dos portugueses e hoje têm só 54”, critica. A organização da ocupação distribuiu caldinho de feijão, uma tradição em todas as atividades culturais que acontecem ali. Maria de Lourdes dos Santos, a Cigana, é quem prepara a iguaria toda vez. Mineira, ela mora há 40 anos em São Paulo e integra o movimento há quatro anos. “Adorei e espero que vocês voltem mais vezes para agitar”, elogiou.

Surpresa: nas cadeiras, muito vale-brindes distribuídos ao público.

Enquanto o público preenchia o questionário de avaliação da sessão, uma novidade. Foram distribuídos vale-brindes por baixo das capas de proteção das cadeiras além do já tradicional sorteio de camisetas.

O CineB Solar é um circuito alternativo de exibição que, desde 2007, leva cinema brasileiro para várias regiões da cidade. O projeto, que agora passa a se chamar CineB Solar quando estiver nas comunidades, já contabiliza um público superior a 60 mil pessoas em mais de 480 sessões gratuitas em comunidades, escolas e universidades de São Paulo. Já foram exibidos na tela do CineB mais de 116 longas metragens e 73 curtas metragens.

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