“Selvagem” tem sessão especial na Barragem

No último sábado, 29/02, o CineB Solar foi até a EE Prof. Joaquim Álvarez Cruz, no mais afastado bairro da cidade de São Paulo, para exibir uma sessão especial do longa-metragem “Selvagem”, de Diego Costa. O diretor, ao lada atriz Fran Santos, do produtor Will Darwin e do montador Sergio GAG, participaram de um bate-papo com o público ao final da exibição.

Antes do filme, rolou brincadeiras para divertir o público

O bairro mais distante do Centro de São Paulo, Barragem, que fica na região de Parelheiros, no extremo sul da capital, a 48 km do marco zero da cidade, contou, no último sábado, 29/02, com uma sessão prá lá de especial: a pré-estreia do longa-metragem “Selvagem”, de Diego Costa. A atividade, organizada pelo coletivo Perifeminas e pelos coordenadores da biblioteca-ônibus administrado pelo Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário (Ibeac), aconteceu no pátio da Escola Estadual (EE) Professor Joaquim Álvares Cruz e contou com a presença do diretor do filme, da protagonista Fran Santos, do produtor Well Darwin e do montador Sérgio GAG.

O filme retrata, de forma ficcional, as ocupações nas escolas públicas do estado em 2015, conta a história de dois protagonistas, Sofia e Ciro, que são estudantes em uma escola que sofre com a falta de merenda, problemas de infraestrutura e ameaças de fechamento. Quando os estudantes decidem iniciar as ocupações, Sofia e Ciro não participam no primeiro instante, no entanto, percebem a importância das reivindicações. À medida que se integram ao movimento, a pressão policial aumenta para que haja a saída dos alunos a qualquer custo. Com direção de Diego Costa e com Fran Santos, Kelson Succi e Lucélia Santos no elenco.

Cidálio Vieira, coordenador do CineB Solar na abertura da sessão

A sessão, prevista para acontecer ao lado do ônibus-biblioteca foi transferida para o pátio da escola por conta da constante chuva que caiu o dia todo na região. Mesmo em reforma, o espaço comportou o público que foi à sessão e foi palco para uma apresentação musical depois da exibição do filme e um animado debate, que durou quase uma hora. Foi a quinta sessão do projeto no espaço.
Para Sidneia Aparecida Chagas articuladora, gestora e mediadora de leitura do Ibeac, responsável pelo ônibus-biblioteca que fica ao lado da escola, Parelheiros é rico em cultura, mas precisa trazer movimentos que estão no centro. “É difícil para as pessoas o acesso ao cinema, pelo custo do transporte, do ingresso, da alimentação, então pensamos essa parceria”. E completa: “temos um ônibus-biblioteca que faz empréstimo de livro para a comunidade e também desenvolve atividade lúdicas. Queremos que a comunidade reconheça este patrimônio como sendo propriedade deles também e que eles possam cuidar e usufruir. E eles só vão saber da existência do ônibus se começarem a frequentar e hoje é uma oportunidade para falar desse projeto”, explica.

O longa-metragem “Selvagem” está, desde o ano passado, circulando por festivais, e foi numa dessas exibições, em Cachoeira, na Bahia, que surgiu a possibilidade de trazer o filme, que fala da luta dos estudantes das escolas periféricas, para uma exibição na Barragem conta Dani Urso Grande, terapeuta ocupacional da rede municipal de saúde, que atua na região do Grajaú. “Fiquei encantada com o filme lá em Cachoeira, e falei para eles [Diego Costa e Well Darwin] que achava que esse filme tinha que circular nas quebradas. Ao conhecer o coletivo Perifeminas fizemos uma parceria, enquanto rede de resistência e proteção das mulheres, elas fazem um trabalho aqui com as meninas e os meninos, com o time de futebol, e falei para elas fazerem uma articulação e eles toparam trazer o filme para cá”, revela.

Apresentação dos músicos da comunidade antes do debate

Para Diego Costa, diretor do longa, a sessão organizada pelo Cine B Solar possibilita levar o filme para aqueles locais e pessoas que mais precisam. “Poder ir com o filme, neste caso, onde não têm salas de cinemas, e poder conversar com a galera e entender o que eles estão pensando, o que eles estão falando […] é incrível. Queremos exibir não só nesta escola, mas em outras, inclusive na escola que a gente fez o filme”, destaca.

Fran Santos, atriz de 19 anos e protagonista do filme, moradora do Grajaú, participou pela primeira vez da exibição do filme em uma escola pública. “Foi uma experiência única, meu primeiro trabalho como atriz. Um tema que mobilizou muitas escolas e eu me senti muito bem, muito feliz, muito pertencente a isso também, porque eu também estava presente em muitas ocupações. Também estudei em escola pública, então com certeza eu entendi muito bem o que a Sofia [a personagem] sentia, e faz todo sentido tudo que rolou, no desfeche da história. Mesmo sendo uma ficção, tinha muito de realidade também”, declara. E completa: “Eu moro no Capão Redondo, estudei no José Porphyrio da Paz, ali no extremo sul de São Paulo, e foi intenso, a escola tinha “N” problemas, porque estudar em escola pública é difícil, tem inúmeras dificuldades que impedem a gente de conseguir estudar, conseguir se concentrar nos estudos. Acho que é sobre isso, sobre a gente se levantar, sobre a gente lutar para algo para o nosso futuro, para o nosso bem”, termina.

Bate-papo com o diretor, Diego Costa, e a atriz Fran Santos

Depois da abertura da sessão, em que o coordenador do projeto, Cidálio Vieira Santos, apresentou toda a equipe do filme ao público, e depois da exibição, que atraiu a atenção de todos os presentes, rolou uma apresentação musical, com ex-alunos da escola e um longo debate. Sônia Estela da Sila, conhecida como Fumaça, funcionária do Sindicato dos Bancários de São Paulo e liderança comunitária estava entusiasmada com a sessão: “é uma honra a gente receber o CineB Solar novamente. Mesmo com uma chuva, muito frio, essas pessoas fizeram o esforço de estar aqui prestigiando a pré-estreia do novo filme e para mim é muito importante, é sem palavras, é com muita emoção mesmo, que eu agradeço a presença de todos vocês. Assim a gente espera construir um mundo melhor e mais feliz”, destacou.

DEBATE
Em uma roda, reunindo todos, produtores do filme e público, o papo fluiu por mais de uma hora e ao final, ainda muito mais conversa e confraternização. Para Lurian Martins Gonçalves, mãe mobilizadora, cabeleireira e funcionária do Centro de Excelência em Primeira Infância, foi uma atividade especial. “Esse trabalho precisa ser levado para outras escolas”, sugere. Rafael Rodrigues da Silva, ator e músico, morador da Barragem e ex-aluno da escola, “O filme representa bastante a política educativa que temos no país, que menospreza as minorias”, reflete. Já para a diarista Maria Fernandes de Oliveira, que atua na Sociedade Amigos do Bairro e luta por melhorias para a região, o filme tem uma “história comovente”, finaliza.

Equipe do filme conhece a van com o sistema de captação de energia solar

Após o debate, foram sorteados brindes e os presentes ainda conheceram como funciona a van adaptada para gerar energia solar que alimenta os sistemas de som, iluminação e exibição do filme.

SOBRE O CINEB SOLAR
O CineB Solar é um circuito itinerante de cinema realizado pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e pela Brazucah Produções. Desde 2007, já atingiu um público superior a 70 mil espectadores em mais de 550 sessões gratuitas, realizadas em comunidades e universidades da cidade de São Paulo. A iniciativa busca democratizar o acesso ao cinema nacional e divulgar os filmes produzidos no Brasil. Já foram exibidos na tela do CineB Solar mais de 130 longas-metragens e 80 curtas-metragens, além da realização de pré-estreias exclusivas.

Texto: Carlos Rizzo. Fotos: Mirella Magnani.

29/02/2020

 

4 comments

  1. Parabéns pelo trabalho, foi um momento muito importante para aquela escola, para a comunidade ter aquela sessão de cinema, que fala de assuntos fortes e importantes para ser discutidos com todas as pessoas.
    O bacana do Projeto de vocês é que leva a sétima arte para aqueles que muitas vezes não podem ir aos cinemas, por distância, falta de tempo ou mesmo financeiro.
    Bela iniciativa.

  2. Um ótimo projeto!
    Agradeço pelo carinho com a comunidade, a parceria com as instituições e o cuidado com cada momento, desde a preparação do espaço, acolhimento, bate papo e organização de encerramento. A parceria do filme, junto com a produção foi de grande importância para nós entendermos o processo de realização, sendo elas seus pontos positivos, quanto aos negativos, compreendendo as dificuldades encontrada, mas também a satisfação pela realização. Foi lindo!

  3. Gratidão por oportunizar pessoas terem o primeiro contato com cinema sem sair do seu território e com qualidade.
    Essa vivência com certeza será um marco na vida delas.
    Um bairro esquecido pelo poder público,mas bem mobilizado pelos moradores,idealizando um parelheiros melhor pra se viver,ter acesso com a cultura.

  4. Foi incrível! Vou guardar no coração cada sorriso, cada troca sincera. É de juventudes e luta que se trata, e quem é sabe que juntos fazemos diferença. Só agradece❤

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