CineB Solar promoveu exibição de documentário gravado na Vila Flávia. Foi a primeira exibição do filme para a comunidade, protagonista da história
por Eduardo Viné Boldt
Após quase dois anos, o filme Minha Fortaleza: os filhos de fulano pôde ser exibido na Vila Flávia, São Matheus, bairro da zona leste paulistana. A exibição aconteceu na noite de sábado (11), em uma parceria entre o CineB Solar, a Taturana Mobi e o projeto São Matheus em Movimento. A sessão contou com a presença do elenco do filme e da diretora Tatiana Lohmann e foi realizada no Favela Galeria Shopping, espaço ocupado com arte, grafite e muita música pelos moradores do bairro.
A diretora Tatiana Lohmann ressaltou a importância da estreia na comunidade protagonista das histórias retratadas no documentário.
Tais Alves dos Santos é produtora e esteve na exibição como representante da Taturana Mobi. A empresa é uma distribuidora que trabalha a temática social nos filmes de seu catálogo. As exibições são realizadas buscando o impacto social, abrindo uma janela para filmes com temáticas importantes, mas que muitas vezes não tem espaço no circuito comercial. Tais ressalta as características do documentário e da exibição na Vila Flávia. “Esse filme foi gravado aqui com o envolvimento das pessoas que estão presentes no território, da diretora. Então esse filme mostra muito bem o que a Taturana é”, ressalta.
Desde 2007 o bairro conta com as atividades do projeto São Matheus em Movimento. Antes da exibição foi inaugurada o espaço Favela Galeria Shopping com o Rap N Rio. A ação visa chamar a atenção para a comunidade através de eventos culturais, como shows e atividades artísticas. Antes do filme, uma série de artistas se apresentaram, como a o próprio Negotinho e a Jô Maloupas, a Sitah Mari e o DJ Wagnão.
Fortaleza
O documentário narra a história de três famílias da periferia de São Paulo que tem em comum o protagonismo das mães na criação de seus filhos, sem a presença dos pais. Marcário, Negotinho e Barão abrem suas vidas e a relação com as mães em um sensível documentário que reflete sobre o abandono, a masculinidade e um processo de cura vivido pelas personagens. Todos eles estiveram presentes com suas famílias e suas mães, em uma sessão onde o público foi as lágrimas.
Fernando Rodrigo de Carvalho, o Negotinho, estava visivelmente emocionado. A exibição da sua história para a sua própria comunidade foi um marco para ele e para o bairro. “Nosso povo chegou para ver a nossa história. Para que a gente passe através do filme uma nova realidade para a juventude de hoje. Para que eles possam refletir e parem para pensar, e ver que no nosso tempo era muita dificuldade, e as nossas ‘coroas’ venceram cuidando da gente, fazendo da gente homens melhores”, disse.
“A palavra é gratidão”, clamou Macário durante a exibição. Ele acompanhou o projeto desde o início, e durante quase vinte anos esteve envolvido na produção do longa. Macario pode assistir ao lado de sua mãe, e também junto com a esposa e suas filhas. Como em um processo de cura, o personagens hoje é um pai carinhoso e presente, diferente da realidade que ele encontrou há vinte anos atrás. O tempo não apagou as cicatrizes, mas o transformou em uma pessoa mais forte. Um exemplo para a comunidade e para suas filhas.
O filme
O documentário aborda a relação de 3 famílias que viveram sem a presença da figura paterna, incumbindo as mães da responsabilidade da educação e do sustento da casa. A obra acompanha a trajetória dessas famílias da Vila Flávia, periferia de São Paulo, onde as mães assumiram um papel importante na formação e no imaginário de seus filhos.
O filme foi destaque no Festival do Rio em 2019, participando do American Black Film Festival (ABFF) em 2020. O longa estreou no circuito comercial em 25 de fevereiro de 2021, em exibições realizadas durante a pandemia. No lançamento foi promovido debates online sobre masculinidades na quebrada, tema abordado pelo documentário.
Sobre o CineB Solar
Criado em 2007 pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região, o CineB passou a se chamar CineB Solar em 2018, quando passou a circular com uma van que gera, através de placas solares, a própria energia consumida no evento. Já atingiu um público superior a 75 mil espectadores, 160 bairros percorridos, em mais de 580 sessões gratuitas realizadas em comunidades e universidades de São Paulo. Nesse momento de isolamento, para evitar aglomerações, se reinventaram e prepararam novos projetos: CineB on-line, CineB Solar na Janela e CineB Autorama, ações para que todos possam ficar em casa e se divertir com uma sessão de cinema.
Que linda matéria! Afetuosa como foi todo o processo de realizar essa sessão junto ao CineB Solar e à Taturana. É em processos e relações assim que eu acredito; onde afeto e respeito são ativos fundamentais nas parcerias. Muito obrigada e parabéns ao Eduardo pelo texto e fotos.
Lindo projeto!
Exercido de forma tão humana e alinhada com a técnica para projeção do filme.
Temos a recepção e afeto do cinema, só que ao ar livre. E com direito a pipoca <3
É essa sessão ao qual pude estar presente extrapolou as telas.
Foi muito emocionante.
Simplesmente fantástico,todo o processo de criação até a conclusão com essa parceria com o cine B foi um grande aprendizado compartilhado entre essa “família” que se criou entre todos envolvidos…sou grato a cada um!
Viva o cinema nacional,viva minha fortaleza!….🙌🏿🙏🏿💥