Texto e fotos por Carlos Rizzo
A Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, que fica na Vila Leopoldina, foi a primeira comunidade a receber uma sessão do CINEB há oito anos. Na última sexta-feira, 14/8, voltamos lá para exibir o filme Irmã Dulce
Nesses oito anos de existência do CINEB, um dos maiores orgulhos é poder retornar a um espaço e rever grandes amigas e amigos. A Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, na Vila Leopoldina, tem uma história única com o CINEB. Foi lá que, no dia 6 de julho de 2007, aconteceu a primeira exibição itinerante do projeto. Depois daquele dia, a história do cinema brasileiro não foi a mesma. O CINEB se tornou um dos maiores divulgadores da sétima arte nacional, com um público que já ultrapassa os 50 mil espectadores em 360 sessões gratuitas.
A sessão da última sexta-feira, 14/8, foi a quinta na Vila Leopoldina e aconteceu no Salão Paroquial da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes. Contou com mais de 160 pessoas, que se emocionaram com a história de Irmã Dulce. Com direção de Vicente Amorim, o filme é uma cinebiografia da religiosa baiana, que, em vida, foi chamada de “Anjo bom da Bahia”, indicada ao Nobel da Paz e beatificada pela Igreja. O filme apresenta sua trajetória de vida da década de 1940 aos anos 1980. O filme mostra como a religiosa católica enfrentou uma doença respiratória incurável, o machismo, a indiferença de políticos e até mesmo os dogmas da Igreja para dedicar sua vida a cuidar dos miseráveis, deixando um legado que perdura até hoje. Ainda em agosto acontecem mais duas sessões do filme Antes do filme foi projetado o curta-metragem Pajerama, sobre a caçada de um índio em meio a acontecimentos estranhos na floresta. A animação tem roteiro e direção de Leonardo Cadaval.
O público foi chegando aos poucos, formado por moradores da região, frequentadores da paróquia e moradores do albergue público Zancone, que fica na região da Vila Leopoldina. Aliás, de segunda a sexta, há mais de 20 anos, sempre às 18 horas, a paróquia oferece um “sopão” para os moradores de rua que circulam em torno do Ceagesp-SP. São 120 pratos de sopa por dia, preparados por cinco equipes de voluntários que se revezam na preparação e serviço da refeição. E muitos desses moradores, depois da refeição aproveitaram para acompanhar a sessão.
Várias lideranças locais estiveram presentes, como é o caso da Luciana Pazzini, diretora financeira da Associação de Apoio à Infância e Adolescência Nossa Turma, entidade sem fins lucrativos que fica dentro do Ceagesp e proporciona às crianças e adolescentes em situação de risco social, moradores do entorno do entreposto, um espaço seguro para a socialização, onde o respeito e o resgate da cidadania são vivenciados no dia a dia. Luciana é uma frequentadora contumaz do CINEB. “Eu vim várias vezes, gosto de participar. Vocês estão de parabéns, pois unem entretenimento à reflexão, ao debate”, comenta. Também marcaram presença na sessão, representantes do colégio Di Cavalcanti e os integrantes do Fórum Social, que há dois anos reúne a sociedade civil e representantes de várias áreas do poder público para discutir a implantação de políticas públicas para atender a exclusão social na região. Por conta do Ceagesp, a Vila Leopoldina conta com um dos maiores números de moradores de rua da cidade de São Paulo.
Adaucto Durigan, bancário aposentado e coordenador do Fórum elogiou a iniciativa do Sindicado dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região por valorizar a cultura e o cinema brasileiro ao mesmo tempo que mantém as preocupações da categoria. “É uma inciativa fantástica. O cinema não é só diversão. Também é formação, informação e reflexão e o Sindicato faz seu papel cidadão incentivando esse projeto”, avalia.
Na abertura oficial da sessão organizada pelo Coordenador do CINEB, Cidálio Vieira Santos, Frei Rhuan, da Congregação Agostinianos Recoletos, lembrou do grande legado deixado pela Irmã Dulce: “ela é uma das maiores mulheres da história do Brasil. Pequena, franzina, mas que teve uma força enorme para transformar a vida de muitos à sua volta”, lembra. Opinião compartilhada por muitos dos presentes que ao final da exibição aplaudiram longamente o filme.
Frei Fernando, também da Congregação Agostinianos Recoletos, que colaborou com o sorteio de prêmio ao final da sessão, lembrou o exemplo que a Irmã Dulce traz, “primeiro porque o trabalho de inclusão deve ser desenvolvido por todos, segundo porque o filme partilha esses princípios de solidariedade e amor ao próximo”.
Para Nana Della Gata, moradora da região e produtora do curta Lá do Centro, exibido recentemente em uma sessão no Bixiga, o filme emociona. Apesar de participar de várias sessões do CINEB, foi a primeira vez que acompanhou uma sessão no bairro onde mora. “Eu chorei, ri e me comovi com a história da Irmã Dulce”. Outro que aprovou a sessão foi Teodoro Ribeiro, que há cinco meses mora e faz cursos no albergue Zancone e, pouco antes do filme, tomou o sopão oferecido pela paróquia. “Irmã Dulce ajudou muita gente, fez um serviço social bonito. Acho a iniciativa (do CINEB) importante. Deveria ter mais. Ia ser legal”. Ribeiro, foi um dos ganhadores das camisetas do CINEB sorteadas na sessão e foi embora orgulhoso, vestindo o prêmio.
Agradecemos, em especial, a Andrea Zanetti, da pastoral da família, e a Bernadete, da secretaria da paróquia, além de todos que ajudaram na divulgação e distribuição dos convites. Também agradecemos aos jornais Nosso Bairro e Jornal da Gente, da Lapa, por divulgarem o evento e pela presença do jornal O São Paulo que cobriu toda a sessão. A matéria será publicada na edição da próxima quarta-feira, dia 19.
CLIQUE AQUI PARA VER MAIS FOTOS
O CINEB é um circuito itinerante de cinema realizado pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e pela Brazucah Produções. Desde 2007, o já atingiu um público superior a 50 mil espectadores em mais de 360 sessões gratuitas realizadas em comunidades e universidades de São Paulo. A iniciativa busca democratizar o acesso ao cinema nacional e divulgar os filmes produzidos no Brasil. Já foram exibidos na tela do CINEB mais de 75 longas-metragens e 50 curtas-metragens, além da realização de pré-estreias exclusivas. Conta com o apoio de mídia da edição brasileira do Le Monde Diplomatique.