Texto e fotos por Carlos Rizzo
Comunidade ligada à Igreja Nossa Senhora Aparecida, que fica na Vila Anglo Brasileira, recebeu pela primeira vez o CINEB, no último sábado, 14/11. Em cartaz, o belíssimo filme sobre Irmã Dulce
Sábado, 14 de novembro, final de tarde. Enquanto a produção do CINEB montava mais uma sessão do projeto, a 37ª do ano, no salão paroquial que funciona sob Igreja Nossa Senhora Aparecida, que fica na Vila Anglo Brasileira, na Zona Oeste de São Paulo, em cima, o padre Élio Vigo, que já foi bancário antes de se tornar seminarista, comandava a tradicional missa do sábado, que reúne dezenas de fiéis e moradores da região
Foi a primeira vez que o CINEB foi à igreja, graças à insistência e perseverança do casal Wilson José Gomes e Margarida dos Santos Gomes, voluntários atuantes na comunidade católica. Wilson conta que assistiu, há dois anos, uma sessão do CINEB exibida na praça Amadeu Decome, que fica na Zona Oeste, com o filme Eu e meu guarda-chuva. Desde então começou a atuar para levar o filme para sua comunidade.
Em cartaz, o filme Irmã Dulce, que fez enorme sucesso nas cinco sessões organizadas pelo CINEB entre os meses de agosto e setembro em diversas comunidades católicas da cidade de São Paulo. O longa-metragem conta a trajetória de vida da religiosa baiana, que foi chamada de “Anjo bom da Bahia”, indicada ao Nobel da Paz e recentemente beatificada pela Igreja. Dirigido por Vicente Amorim, a obra mostra como a religiosa católica enfrentou uma doença respiratória incurável, o machismo, a indiferença de políticos e até mesmo os dogmas da Igreja para dedicar sua vida a cuidar dos miseráveis, deixando um legado que perdura até hoje.
Antes do filme, foi exibido o curta metragem Na pista do apito, de Daniel Chaia, ficção que conta a história de um menino de 9 anos que vive um dia de aventura em busca de um amolador ambulante para afiar a tesoura de estimação de sua mãe.
Aos poucos os moradores da Vila foram chegando, chegando, e aproveitando a pipoca gratuita feira pelo Seu Antonio. Mas o público lotou o espaço, com as 120 cadeiras que a produção levou para o salão, após o fim da missa. Para participar da sessão, a comunidade doou um quilo de alimentos não perecíveis para a paróquia, com o intuito, segundo Wilson, de montar cestas de natal. “Queremos fazer um final de ano mais feliz para a comunidade carente do bairro”, explica.
Para o pároco Élio, é fundamental que existam ações como a do CINEB que levam cultura para as comunidades de São Paulo. “Nós estimulamos muito a nossa comunidade. Há pouco tempo fizemos uma apresentação de coral, e trouxemos grupos para cantar. Foi muito bonito”, recorda. Ao final da sessão, o padre confessou: “Achei bonito o filme, me emocionou”. E, com microfone à mão, perguntou ao público presente: “Quem aqui se emocionou com o filme?”. Muitos levantaram a mão.
Foi o caso de Sandra Boleta Tardini, que aos 94 anos, não arredou o pé e ficou até o final da sessão: “Gostei muito. É uma história bonita.” Sua amiga Maria Bernardete, 70 anos, estava empolgada com a sessão: “Eu amo filme brasileiro. E adorei Irmã Dulce, ela é da minha terra. Eu não podia perder essa oportunidade de vê-la aqui”, confessou. Outro morador que elogiou a iniciativa do CINEB foi Leandro Antonio Gatti, que escreveu um livro sobre a história da Vila. Ele conta que antigamente, moradores da Vila Anglo Brasileira e bairros vizinhos assistiam filmes na praça, todos juntos. “Hoje não temos mais isso, infelizmente”.
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O CINEB é um circuito itinerante de cinema realizado pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e pela Brazucah Produções. Desde 2007, o já atingiu um público superior a 50 mil espectadores em mais de 389 sessões gratuitas realizadas em comunidades e universidades de São Paulo. A iniciativa busca democratizar o acesso ao cinema nacional e divulgar os filmes produzidos no Brasil. Já foram exibidos na tela do CINEB mais de 80 longas-metragens e 55 curtas-metragens, além da realização de pré-estreias exclusivas.