O projeto CineB esteve na Etec Heliópolis na última terça-feira, 27/6, para exibir o documentário “Nega Que É Nega Não Nega Ser Nega Não”, do músico e cineasta Fábio Nunez que participou de um bate papo com os alunos.
Na última terça-feira à tarde, 27/6, enquanto o presidente Temer entrava em cadeia nacional para tentar justificar o injustificável, num trôpego pronunciamento à nação diante da inédita acusação de corrupção feita pela Procuradoria Geral da República a um presidente em exercício, os alunos de Informática e Nutrição da Escola Técnica Estadual (Etec) Heliópolis passavam uma tarde totalmente diferente da rotina de um colégio técnico.

A Etec, localizada na região Sudeste de São Paulo, recebeu, pela primeira vez, o Projeto CineB. A escola integra um complexo de educação ao lado do Centro Educacional Unificado (CEU) Heliópolis e o Instituto Bacarelli – um dos mais importantes projetos de educação musical do país, que inspirou o filme “Tudo que Aprendemos Juntos”, exibido ano passado pelo CineB.

Em cartaz, o documentário “Nega Que É Nega Não Nega Ser Nega Não”, do diretor e músico Fábio Nunez. O filme, inspirado na música de mesmo nome do próprio Fábio Nunez e Jacson Matos, apresenta a pluralidade e a força do universo negro feminino. Mulheres de todos os segmentos sociais e profissionais, referência para futuras gerações e grandes exemplos de resistência e luta contra os persistentes processos de machismo, racismo e exclusão deram seus depoimentos sobre suas trajetórias de vida, o pensam e como vêem os processos de exclusão e racismo no Brasil.

O próprio diretor esteve na Etec e participou, ao final da exibição do filme, de um debate com os alunos. Ele conta que fez o filme a partir das gravações do videoclipe da música “Nega Que É Nega Não Nega Ser Nega Não”, lançada em 2009. “Em 2015, a música recebeu um novo arranjo e a voz da rapper Cris do grupo SNJ, então resolvemos fazer um videoclipe e convidamos mulheres negras com histórias lindas, e eu quis fazer o making off do clipping com o depoimento dessas mulheres. Ficou um trabalho tão denso, tão rico, que acabou virando um documentário, que terminamos antes do clipe”, explica.

O filme foi lançado no final de 2015 numa única sessão no Itaú Cultural, por conta das atividades do mês de Consciência Negra e desde então vem circulando nos circuitos alternativos do país. Elogiado pela crítica e pelo público, o documentário será exibido em cinco sessões no CineB. A primeira delas aconteceu na Etec Heliópolis. As outras ainda serão agendadas e quem tiver interesse é só acompanhar a programação do CineB pelo blog.

Para o professor de língua portuguesa e coordenador do ensino médio da Etec, Francisco Fagner, o filme selecionado para exibir na escola é muito pertinente. “O preconceito e o racismo precisam ser debatidos na escola”, comenta. Ele conta que conheceu o CineB através dos trabalhos desenvolvidos pela Brazucah Produções na Etec nos anos anteriores. “Quando vi que o CineB também era um projeto da Brazucah, entrei em contato para que pudesse trazer o projeto para a escola. “O cinema encanta os alunos”, finaliza.

Após a exibição do filme, Cidálio Vieira Santos, coordenador do CineB, comandou, por cerca de uma hora, um bate papo entre o diretor Fabio Nunez e os alunos da Etec. Também participaram da conversa o professor Fagner e a jornalista Clarice Tatyer que integrou a produção do documentário.

Para Isabela da Silva Carvalho, aluna do 3º ano de Nutrição, o documentário consegue abordar diversas temáticas que fazem parte das lutas do movimento negro “e isso é importante para mim que sou negra e estou na adolescência”. Ela conta que se viu na mesma situação de uma das personagens do filme que “por um lado não é considerada negra pelos negros e por outro não é considerada branca pelo brancos. Eu sou negra e tenho orgulho disso”, declarou.
Além dos alunos da Etec, estava presente à sessão, o aposentado Eduardo José Moreira, morador do Parque Erasmo, em Santo André, e integrante da Pastoral do Negro. Ele conta que soube da sessão pela TVT no dia anterior [veja aqui, a partir dos 35’45”], se interessou e foi conferir. “O filme é ótimo e o debate valeu a pena. É muito bom ver esse tipo de atividade, porque o racismo vence quando não se conhece a sua história. Por isso acho importante as referências, como as que vimos no filme”, explicou.

Ao final da sessão foram sorteados livros doados pela ONG Eh Aqui, uma parceira do Cine B que funciona como uma facilitadora na doação de livros, visando democratizar o acesso à cultura. Também foram distribuídos exemplares do jornal Le Monde Diplomatique, outro parceiro do projeto. O CineB agradece também todo os professores que acompanharam a atividade na Etec.

O CineB é um circuito itinerante de cinema realizado pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e pela Brazucah Produções. Desde 2007, o já atingiu um público superior a 56 mil espectadores em mais de 430 sessões gratuitas realizadas em comunidades de São Paulo. A iniciativa busca democratizar o acesso ao cinema nacional e divulgar os filmes produzidos no Brasil. Foram exibidos na tela do CineB mais de 100 longas-metragens e 69 curtas-metragens, além da realização de pré-estreias exclusivas.
Estou tentando localizar a Clarice Tatyer para uma palestra em nossa instituição, como faço para contata-la? Obrigado!