CineB esteve pela terceira vez na EE Prof. Joaquim Álvares Cruz, no bairro Barragem, extremo Sul de São Paulo, na última quarta-feira, 28/6, para exibir a comédia “Shaolin do Sertão”, de Halder Gomes. Antes da sessão, a fanfarra da escola fez uma apresentação.
Barragem é um dos bairros mais distantes do Centro de São Paulo. Fica a 48 quilômetros do Marco Zero da cidade. Surgiu no entorno da Barragem da EMAE, é formada por chácaras e sítios e conta com apenas uma linha de transporte coletivo que liga a região ao Terminal Parelheiros. Próximo ao ponto final do ônibus, fica a Escola Estadual Joaquim Álvares Cruz, onde pela terceira vez o CineB exibe uma sessão.
As duas sessões anteriores aconteceram em 2015. Neste ano, a diretora da escola Edna Cristina da Silva estava torcendo para o retorno do projeto. “Os alunos e a comunidade cobraram muito uma nova sessão”, explicou. O CineB reservou uma comédia, o longa-metragem “Shaolin do Sertão”, do diretor Halder Gomes, para o bairro que fica a cerca de uma hora e meia de ônibus do cinema mais próximo, localizado no Shopping Interlagos. Lançado no final de 2016, o filme conta a história dos lutadores de vale tudo que na década de 80 passaram por dificuldades devido a falta de lutas profissionais. A fim de manter a paixão pela luta, eles desafiam os valentões no interior do Ceará que aceitam participar da competição. É assim que Aluiso Li (Edmilson Filho) vê a sua chance de ouro para realizar o sonho de se tornar um verdadeiro mestre das lutas como os heróis de seus filmes favoritos.
Mais uma vez a articuladora da sessão foi a moradora do bairro e funcionária da Regional Sul do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Sônia Estela da Silva, Fumaça entre os bancários e Nega Fu na comunidade. Para ela, a sessão representa o casamento entre o asfalto e o chão de barro. “É possível trazer a cultura e o lazer para o nosso povo, para o último bairro da cidade de São Paulo, que é tão desprovido de tudo. Para mim é um orgulho muito grande ter o CineB aqui novamente”, comentou, pouco antes do início da sessão e diante de um pátio da escola lotado, com as 200 cadeiras ocupadas.
O público era formado por moradores da Cidade Luz, Santo Antonio, Santa Cruz, Krukutu, Chácara do Bananal, Jardim Represa e da própria Barragem. A sessão também contou com os alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) da EMEF Vagem Grande, que fretou um ônibus para poder ir até a EE Prof. Joaquim Álvares Cruz. Rosilene dos Santos Filho era uma das alunas do EJA presente na sessão. Ela conta que tem cinco filhos e mora na região há 18 anos. Nunca tinha entrado numa sessão de cinema antes. “Ninguém me convidou, então eu nunca fui. A sorte é que a escola veio, senão ficaria sem conhecer”, completa.
Quem já estava na sessão antes da chegada dos alunos do EJA assistiram aos curta-metragens “Animais”, da Oca Animations, uma animação que trata da vida dos seres humanos como se fossem animais e “Botas e Cores” (2010) de Juliana Vicente, uma crítica à estetização dos programas infantis. Antes da abertura oficial da sessão, os presentes acompanharam uma apresentação da Fanfarra da Escola, que atualmente é comandada pelo estudante do segundo ano do Ensino Médio, Kevin Chagas Pereira. Kevin explica que a fanfarra atuava desde 2005, mas foi desmontada em 2016. “Há dois meses, organizamos o grupo novamente. Eu tocava na fanfarra desde 2014 e adorava. Quando a diretora me convidou para retomar, eu fiquei feliz, busquei antigos alunos da escola e formamos o grupo que hoje tem 12 pessoas. Eu não sou regente. Eu só ajudo nos toques, na formação, na baliza e estou buscando me capacitar para poder continuar com esse trabalho”, destacou o jovem de 17 anos.
A comédia, que conta com a a atuação do ator e cantor Falcão, caiu no gosto dos moradores, que se divertiram muito. Ao final da exibição muitos aplausos e elogios, inclusive da estudante do EJA Cintia Queli da Silva. “Gostei muito do filme e estou emocionada, porque quando era pequena estudei aqui. Nunca mais havia retornado. Hoje moro lá na Vargem Grande, faço EJA com meu filho, Wellington [da Silva Laqualli]. Ele está na oitava série e eu na sexta. Eu queria muito rever a escola”, completa, retornando para o ônibus dos estudantes ao lado do filho.
Na sessão foram sorteados livros doados pela ONG Eh Aqui, uma parceira do Cine B que funciona como uma facilitadora na doação de livros, visando democratizar o acesso à cultura e distribuídos exemplares do jornal “Le Monde Diplomatique Brasil”, outro parceiro do CineB.
O CineB é um circuito itinerante de cinema realizado pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e pela Brazucah Produções. Desde 2007, o já atingiu um público superior a 56 mil espectadores em mais de 430 sessões gratuitas realizadas em comunidades de São Paulo. A iniciativa busca democratizar o acesso ao cinema nacional e divulgar os filmes produzidos no Brasil. Foram exibidos na tela do CineB mais de 100 longas-metragens e 69 curtas-metragens, além da realização de pré-estreias exclusivas.