Fotos de Vivian Szelpal
O Cine B transformou a última escola de latinha que existe em São Paulo, na comunidade Santo Expedito, num cinema. Os que pensam que todas estas escolas feitas estupidamente de lata (frio no inverno, quente no verão) foram completamente extintas, se engana. “Nós construímos a nova aqui em frente, que é a EMEF Rogê Ferreira, e não deixamos o Kassab derrubar essa escola de latinha, que hoje oferece cursos extra-escolares para a nossa comunidade”, disse Vera Eunice Rodrigues da Silva, conhecida como Verinha, moradora da CDHU da comunidade Santo Expedito e coordenadora geral da Associação dos Trabalhadores Sem Terra das zonas Oeste e Noroeste.
A comunidade fica no Jardim Panamericano, zona noroeste de São Paulo. Ao lado da escola de latinha, um conjunto habitacional construído através de mutirões entre os próprios moradores, que há 15 anos se inscreveram no MST para conquistarem um lar. “Começamos a construir em 1996 e dois anos depois já concluímos. Aqui moram 256 famílias, 8 famílias por prédio e dois apartamentos por andares. Além de tudo isso, conseguimos a construção de um parque aqui na frente, que é o Pinheiro D’àgua. Somos chiques!”, disse Verinha.
A luta pelo parque veio da carência por espaço dos moradores dos apartamentos. O parque tem mirante, brinquedos para as crianças, ciclovias e muito verde. Tudo decidido entre os moradores e a prefeitura (época da gestão da prefeita Marta Suplicy).
Pela primeira vez o Cine B visita esta comunidade. Mas o projeto já esteve em outros bairros da região como Perus, Residencial Colina D’Oeste, Vila Nova Cachoeirinha e na sede da Associação dos Trabaradores Sem Terra das zonas Oeste e Noroeste, que fica na região da Barra Funda.
“O acesso a eventos culturais é difícil para os que vivem por aqui. O cinema mais próximos fica nos shoppings da Lapa, por isso para mim, O Cine B é um projeto de extrema importância”, disse Verinha.
Levando em conta que era um sábado, peguei o ônibus em frente ao Parque Água Branca, na Francisco Matarazzo e levei uma hora e uns quebradinhos para descer na frente do Rogê Ferreira. O Ônibus veio super lotado, ainda por cima. Em dia de semana, eu levaria muito mais tempo para percorrer os, aproximadamente, 20 quilômetros. Fica difícil ir ao cinema desse jeito, concordam?
OLHAR DESATENTO
Karina Gomes Tavares de Jesus é moradora da comunidade Xica Luiza, na zona noroeste. “Onde moro é aqueles bairros que o governo só se lembra em época de eleição. Somo carentes de tudo”, disse Karina.
Há pouco tempo a Prefeitura de São Paulo tentou remover a população que vive no local desde o início dos anos 90. “Cheguei lá em 91, vi os primeiros barracos serem construídos. Hoje não temos mais barracos, a população se organizou e demos nomes a todas as ruas. O governo chegou a nos intimar oficialmente, queriam dar 5 mil reais para cada família pra se mudar do lugar. O que faríamos com esse dinheiro? Com ajuda do Luiz Cláudio Marcolino e do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região conseguimos o direito de ficar”, disse Karina, que foi acompanhada do marido David Almeida de Jesus na exibição porque quer o Cine B na sua comunidade. “Um projeto como o Cine B é fundamental para comunidade, mas também precisamos de estrutura para viver bem”, disse Karina.
Segundo ela a Prefeitura queria desalojar a comunidade porque o esgoto produzido na região está poluindo o córrego Ribeirão Vermelho, que deságua no Pico do Jaraguá. “Mas não somos os únicos culpados dessa situação, o córrego também recebe água das comunidade Alex Jafé, Mauro de Araújo e Jerimanduba”, disse David.