Fotos de Vivian Szelpal
O Cine B fez duas exibições no dia 9 de setembro no Centro de Educação Popular Nossa Senhora da Aparecida, em Ermelino Matarazzo, zona leste de São Paulo. A primeira exibição, 15h, foi especial para os adolescentes que participam dos cursos no Centro. A segunda exibição, 19h, atendeu jovens e adultos moradores da comunidade e estudantes do MOVA (Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos).
“As pessoas de nossa comunidade gostam da dramatização dos fatos, por isso sempre buscamos parcerias para a realização de eventos culturais como o Cine B. Aqui no Centro já tivemos apresentações de teatro, dança, música realizados pelos próprios alunos, pois esses eventos ampliam o universo cultural desses jovens”, disse Sonia Maria Fonseca, coordenadora geral do Centro de Educação Popular Nossa Senhora da Aparecida.
“Já tinha ouvido falar do Cine B. O cinema realmente ajuda a unir a comunidade, além de auxiliar o ensino em sala de aula, já que os assuntos tratados nos filmes podem ser debatidos por alunos e professores, além de ser uma forma da periferia ter acesso fácil a cultura brasileira”, disse o professor Chico de Ermelino Matarazzo, representante do Sindicato dos Professores.
“Eu tenho 49 anos e há 8 meses fui pela primeira vez no cinema porque minha filha convidou. Quando era mais jovem, não tinha cinema perto de mim, e depois quando casei não tinha tempo ou hábito de ir. Mas o cinema é muito interessante, hoje é minha terceira vez e estou adorando”, disse a estudante do MOVA, Lucileide Luzinete Luna.
Já dona Raimunda Etelvina da Silva foi pela primeira vez ao cinema neste Cine B. “Não pensei duas vezes para vir”, disse dona Raimunda.
“Para nós esta é uma exibição muito especial, nossa primeira vez realizando duas sessões de cinema no mesmo dia. Queremos chegar nos jovens que participam dos cursos de tarde e em vocês do MOVA que estudam à noite”, disse Cidálio Vieira Santos, da Brazucah Produções, na segunda abertura do Cine B.
Há 19 anos, Centro de Educação Popular Nossa Senhora da Aparecida é uma ONG que tem o objetivo de melhorar a comunidade do entorno. Atualmente 280 crianças e adolescentes participam de atividades direcionadas para cada faixa etária. “De uma forma geral, apostamos em atividades socio-educativas, ampliando o universo cultural desses jovens. Para aqueles que já passaram dos 18 anos, damos cursos profissionalizantes e encaminhamos para o primeiro emprego”, disse Sonia Maria Fonseca, coordenadora geral do Centro de Educação, onde também são ministrados cursos de teatro, dança e saraus de poesia.
“Nos cursos de teatro e dança, sempre buscamos rediscutir os problemas que temos por aqui e resgatar a história do bairro de Ermelino Matarazzo. Em parceria com o CDI (Comitê para Democratização da Informática), no ano passado alunos do Centro produziram um vídeo com os celulares sobre o lixo. E hoje podemos dizer que este trabalho é complementado com o Cine B”, disse Ricardo Cardoso, vice-presidente do Centro de Educação.
“O resultado deste trabalho na comunidade é fácil de encontrar. Outro dia mesmo uma aluna nossa foi visitar o trabalho da mãe que é doméstica, e lá na casa a menina identificou um quadro da Tarsila do Amaral. A patroa ficou impressionada e a mãe veio me contar que aquele dia sentiu muito orgulho da educação que a filha estava recebendo aqui”, disse Sonia Maria Fonseca.
RESGATE HISTÓRICO
O Ricardo Cardoso, vice-presidente do Centro de Educação, coordenou ano passado uma atividade com os jovens de pesquisa da história do bairro. Selecionei alguns trechos de nossa conversa.
“Em 7 de fevereiro de 1926 aqui foi construída a estação de trem Comendador Ermelino Matarazzo, nome do falecido filho de Francisco Matarazzo. Francisco foi um empresário de visão, que construiu aqui em volta diversas fábricas que produziam os tijolos, latões, parafusos e outros produtos muito utilizados pelo próprio empresário em seus negócios. Aqui onde hoje é o Centro na época era uma floresta de eucaliptos. Por diversificar demais seus negócios e outros empresários se especializarem, acredito que Francisco tenha perdido forças nos negócios e o contraiu diversas dívidas. Logo toda esta área ficou abandonada. Mas antes desse declínio o empresário construiu um bairro aqui para seus funcionários. Até hotel tinha por aqui, o qual abrigava os engenheiros e outros empresários que visitavam a região. Por aqui chegou a ter 3 cinemas, que hoje não existem mais, assim como o hotel e as casas construídas. Com o abandono da área a ocupação popular veio crescendo, tendo seu ápice em nas décadas de 70 e 80. No governo de Luiza Erundina, graças a uma união da comunidade, na qual a Sonia Fonseca estava atuando também, conseguiram a oficialização da moradia e o nome do bairro continuou a ser Ermelino Matarazzo”, disse Ricardo.
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Israel de Freitas e Denis da Projesom