Fotos de Vivian Szelpal
Neste final de semana Cine B fez exibição no Colégio Vera Cruz, zona oeste de São Paulo, onde acontece o projeto de educação gratuita Ilha de Vera Cruz para alfabetização e ensino fundamental de jovens e adultos das comunidades do entorno. Com 180 espectadores, a sessão teve participação especial da atriz Renata Melo, que escreveu a peça Domésticas, a qual inspirou o filme de mesmo nome que a atriz também participa como a personagem Cida.
“Para nós esta parceria com o Cine B é muito importante pois trabalhamos a educação com os nossos alunos, inclusive fora do ambiente formal da sala de aula”, disse a coordenadora do Ilha de Vera Cruz, Jussara Ferreira Paim.
“O projeto Ilha de Vera Cruz existe há 9 anos, idealizado por alunos da própria escola quando analisaram as necessidades da região onde se localiza o Vera Cruz, que é um colégio particular”, disse mara Parisi, orientadora pedagógica do Vera Cruz. Em 2001 o projeto foi reconhecido pelo MEC e desde então há entrega certificado de conclusão até oitava série para esses estudantes do período noturno. Atualmente, segundo a coordenação do projeto, 7 funcionários remunerados coordenam uma equipe de 100 voluntários que dão aula para 140 alunos. Esses voluntários passam por uma seleção para que sejam pessoas realmente capacitadas para dar aula.
“Podemos atender até 350 alunos, mas ainda os poucos que se matriculam, muitos desistem no meio do caminho por falta de tempo ou mesmo oportunidade. Já tivemos até moradores de rua que eram nossos alunos”, disse Sheila Aguiar, relações institucionais do Vera Cruz. Aliás, aqueles interessados em concluir os estudos, as inscrições ficam abertas o ano todo! Maiores informações você consegue pela telefone 11 38385993, de 14 a 22h. Ou então apareça por lá na rua Baumann, 73, Vila Leopoldina (acesso pela estação Imperatiz Leopoldina, linha B da CPTM).
“Nossa escola fica numa região cercada por bairros carentes. Ano passado realizamos uma sessão do Cine B aqui e foi um sucesso, 300 pessoas assistiram aos filmes. Gente do Cingapura que fica aqui do lado, do Jardim Humaitá, da comunidade da Linha e do Nove. Todos gostaram do evento, por isso resolvemos repetir”, disse Sheila Aguiar.
“O bairro está mudando muito rápido com a construção de novos prédios, o que está melhorando a região. Mas ainda em época de chuvas fortes, há enchentes. O CEASA, que fica aqui perto, bóia literalmente”, disse Sheila.
Por conta deste e outros problemas, para as educadoras do projeto Ilha de Vera Cruz, é fundamental oferecer perspectivas para os jovens e adultos que por algum motivo deixaram de estudar e têm dificuldades para subir no emprego, ou mesmo viver numa cidade como São Paulo.
“Temos algumas mulheres que são domésticas, mas já tivemos alunos que eram donos do próprio negócio, mas não sabiam ler direito. Há cinco anos trabalhando nesse projeto, acompanho a dificuldade daqueles que não foram bem alfabetizados. Numa cidade como São Paulo essas pessoas têm muita dificuldade, por isso alguns se matriculam nem se preocupando em conseguir melhorar de emprego, mas simplesmente para viver melhor”, disse Sheila.
“Vim do Piauí para trabalhar em São Paulo e melhorar de vida. Como tinha que ajudar minha família, arrumei trabalho em tempo integral e não pude continuar os estudos. Quando conheci o projeto tive a oportunidade de voltar a estudar”, disse Mirismár Lima, de 18 anos. Aliás, o aluno mais jovem do projeto ainda indeciso se irá cursar a faculdade de biologia ou matemática.
Para sua colega de sala, a doméstica Cida Bizarrian, todo tempo livre que dispõe usa para estudar. E realmente ela precisa, já que depois de concluir os anos escolares que faltam, pretende se tornar universitária em medicina, ou veterinária.
“Talvez para muitos meu sonho seja um absurdo, mas é o que desejo. Eu há 20 anos trabalho na mesma casa, comecei como babá das crianças, hoje sou mil e uma utilidades. E conforme as crianças iam crescendo, fui percebendo como era valioso estudar. Aí quando essas crianças cresceram, não tive dúvidas em continuar meus estudos”, disse Cida.
DOMÉSTICAS

“Sou colecionadora de histórias e na minha infância as domésticas estiveram muito presentes, pois cuidavam de mim enquanto meus pais trabalhavam. Lembro das empregadas como ótimas contadoras de histórias, então resolvi escrever uma peça que envolvesse este universo profissional”, disse a atriz Renata Melo, em entrevista para a TV Daqui, a qual este presente neste Cine B gravando diversas matérias.
Após a exibição do filme Domésticas, de Nando Olival e Fernando Meirelles, Renata participou de um bate-papo com o público presente. Confira abaixo algumas perguntas respondidas pela atriz.
Vilma Maci, estudante, perguntou: Quanto tempo demorou para o filme ficar pronto?
Renata Melo: Foram dois anos de trabalho.
Renata Melo: Nos filmes e novelas, a doméstica é sempre um personagem secundário. Então tanto na peça quanto no filme, a idéia foi de fazer as empregadas virarem os personagens principais, verdadeiras rainhas, o que é inédito. Eu entrevistei mais ou menos 100 domésticas para montar a história. Algumas acompanhei no cotidiano durante muito tempo. Tinha até uma fonte que usei que era um grupo de advogados trabalhistas. Então na base me minha pesquisa havia quem odiasse e quem amasse este universo.
Célia Takihara, professora voluntária do Ilha de Vera Cruz, comentou: Até ler a sinopse do filme Domésticas, não tinha vontade alguma de assistir filmes brasileiros. Gostaria de parabenizar por este filme tão legal.
Renata melo: O cinema brasileiro está mudando. O Cine B mostra exatamente isso, que estão aparecendo diversos tipos de filmes feitos aqui no Brail, com qualidade.
Renata Melo: A maior parte das histórias são baseadas nos depoimentos que ouvi na fase de pesquisa ou que já tinha ouvido na minha infância.
Renata Melo: Pode ser. Este ano fui chamada aqui na O2 (produtora do longa Domésticas) para uma reunião. Não decidimos nada, mas há intenção de filmar novas histórias, quem sabe?
Como não houve mais perguntas, resolvi eu mesmo arriscar uma: Houve muitas mudanças da história que foi escrita para a peça e esta que vemos no filme Domésticas?
Renata Melo: Na peça as empregadas apareciam como se estivessem num purgatório, como se a vida delas fosse isso. No filme a dificuldade que tivemos foi quanto ao final. O Fernando Meirelles chegou até rodar um fim que as domésticas morriam todas num acidente de ônibus, mas o resultado não ficou legal. O filme ficou meses parado, enquanto o Fernando procurava amigos e colegas da profissão que pudessem opinar sobre o que fazer. Até que decidiu-se por esse final que o filme tem. Até novas cenas tivemos que filmar e outras que já estavam prontas foram refilmadas.
AGRADECIMENTOS
Na abertura, Sheila fez alguns agradecimentos especiais que reproduzimos aqui!
Ao pessoal do Projeto Girassol, Bola Dentro, Acaia, PSR Lapa, NPPE, Projeto Aquarela da Editora Globo, CCA da Vila Leopoldina, Albergue Marly Curi, Disnel, Nossa Turma, UBS Alto da Lapa, UBS Alto de Pinheiros, CCA Coração de Maria, Pelezão, Escola Estadual Boa Nova, Dilermando Dias e Di Cavalcanti, SESI Vila Leopoldina, Albergue Zancon, Escola Basilides, Auro dos Correios, Colégio Santa Cruz, Gracinha, e Beth da Cooperativa de Catadores de Lixo.
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