Fotos de Vivian Szelpal
O Jardim Eliana fica próximo ao terminal Grajaú, uma região que moram aproximadamente 82 mil pessoal, segundo Cristina Maciel Santos, secretária da Associação Comunitária do Jardim Eliana, onde foi realizada esta exibição do Cine B com o curta-metragem O xadrez das cores, de Marco Schiavon e o longa Domésticas de Fernando Meirelles.
“Para nós o Cine B é um diferencial, esta é uma região carente principalmente em atividades culturais. Aqui temos pessoas que já são idosas e nunca foram ao cinema, porque nunca tiveram condições de pagar a entrada”, disse Cristina Maciel, da Associação Comunitária.
“Quando cheguei neste bairro as ruas eram de terra, escuras de noite. Hoje temos estrutura de cidade, ruas asfaltadas, escolas, mas ainda faltam eventos ou espaços de cultura”, disse Paulo Bispo, vice-presidente da Associação. Segundo ele há dificuldade na própria Associação fornecer mais eventos por falta de incentivos públicos e cooperação das pessoas. “Falta mais união”, disse.
“Muitos conseguem trabalhar de forma voluntária, mas outros precisam de dinheiro. Mesmo assim, sempre que possível utilizamos voluntários para dar cursos, como os que dou de pintura em panos de prato”, disse Mariana Paz Araujo, diretora da Associação Comunitária do Jardim Eliana.
“As escolas daqui da região oferecem aulas de reciclagem, tricô, desenho. Eu mesmo sou voluntário nesses eventos fazendo pinturas nos rostos das crianças”, disse Paulo Bispo.
Na abertura do evento Cidálio Vieira Santos, coordenador do Cine B, ressaltou que é a quarta vez do projeto na região. “Já estivemos no Jardim gaivotas, Jardim ideal, agora no Jardim Eliana e semana que vem estaremos em Cocaia”, disse Cidálio.
DOMÉSTICAS DA VEZ
“Isso que mostram no filme é o que realmente acontece. Às vezes nos damos mal e quebramos as coisas fazendo a limpeza. Eu mesmo uma vez deixei cair o aparelho de fax no chão! Sorte que ele conseguiu arrumar”, disse Lucinéia.
Segundo ela antes havia mais preconceito, as pessoas muitas vezes nem a olhavam na cara. Mas hoje a relação entre patrões e empregados, diminuiu.
“Já trabalhei numa casa em que o morador nunca sequer olhou na minha cara, nem me via”, disse Lucinéia.
Carlucia Ferreira Santana trabalha há 20 anos na mesma casa. Hoje só trabalha dois dias na semana. No seu tempo livre, ela, advinha: limpa a casa de quem não pode.
“Por exemplo, uma senhora que não pode se locomover direito e o marido teve um derrame, aí eu vou lá e ajudo a limpar tudo. Não gosto de sujeira, quero ajeitar a casa das pessoas, é melhor viver no limpo!”, disse Carlucia.
Maria das Dores Silva também é outra doméstica que deu sorte com os patrões.
“Trabalho há 30 anos na mesma casa, vi as crianças crescerem. Hoje sou aposentada, mas sempre gostei de trabalhar por lá. Todos me tratavam muito bem”, disse a doméstica Maria das Dores.
SEXO
Sempre alguém na exibição reclama das cenas de sexo. Mas e das cenas em que alguém leva um tiro, ou mesmo leva um soco? Isso nem sempre reclamam. No final da exibição, ouvi de um espectador um comentário que resolvi registrar.
“Vi algumas pessoas no público reclamarem as cenas de sexo, mas acho muito pior que isso a violência sofrida na escola ou mesmo nas ruas. A violência é pior que sexo”, disse Andre Graciano.