Filme sobre escravidão contemporânea tem pré-estreia no CIEJA de Perus

Pureza, história real de uma mãe maranhense que busca o filho aliciado em fazendas no Pará emocionou a plateia de jovens e adultos, muitos imigrantes haitianos

Texto e fotos por Vinicius Souza e Maria Eugênia Sá, da MediaQuatro

O premiadíssimo filme Pureza (veja aqui mais informações), dirigido por Renato Barbieri, produção de Marcus Ligocki e Dira Paes no papel de mãe a procura de filho aliciado para trabalho escravo, que chega ao circuito comercial dia 28 de abril, estreou primeiro no CineB Solar, em exibição especial no Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos localizado no bairro de Perus. A sessão levou muita emoção à plateia, composta por muitos imigrantes haitianos que tiveram de sair de seu país caribenho por causa da miséria e falta de perspectiva.

Na tela do CineB, a foto real dos verdadeiros Abel e Pureza, cuja história inspirou o filme com Dira Paes no papel da mãe que busca o filho aliciado para trabalho escravo

Antes do início da sessão, o coordenador do CineB Solar, Cidálio Vieira, fala com o corpo deocente do CIEJA

Sheila Ferreira Costa Coelho, professora do CIEJA Perus, que funciona desde 2016, conta que a escola tem cerca de 1500 estudantes a partir de 15 anos matriculados, cerca de metade imigrantes haitianos. Com esse histórico, não é surpresa que o CIEJA, que já recebeu outras duas sessões do CineB Solar anteriormente, tenha sido o local escolhido para a primeira exibição no Brasil do filme Pureza. Afinal, como explica Sheila, tanto o CineB Solar quanto o ensino de jovens e adultos se pautam pela inclusão, pelo acesso à cultura e à educação.

Equipe do CIEJA Perus se prepara para a exibição

O corpo docente da escola estava tão empolgado com a pré-estreia que veio em peso. Todos ajudaram, inclusive, a levar todo o equipamento do CineB Solar (telão, projetor, caixas de som, carrinho de pipoca…) para a quadra, que fica num dos andares superiores do prédio. Aqui cabe, ainda, um agradecimento especial à professora de língua portuguesa Cristiane Maria Fialho, que foi a responsável por levar o projeto à escola. Em 2019 o CineB Solar exibiu no CIEJA Perus o filme “Que Horas ela Volta”, da diretora Anna Muylaert e em 2021 foi a vez do filme “Doutor Gama”, dirigido por Jeferson De com roteiro de Luiz Antonio. Assim como Pureza, ambas as películas tratam de temas como racismo, discriminação, exploração do trabalho e diferenças sociais no Brasil contemporâneo (de “Que Horas ela Volta”) e no país do passado ainda com escravidão legalizada (“Doutor Gama”).

Sheila Ferreira Costa Coelho vai trabalhar nas salas de aulas com a mulher real representada por Pureza

“Gostamos muito do projeto porque ele significa uma democratização da cultura, da arte que é um direito cerceado e muitas vezes fora do cotidiano do trabalhador, até pelo preço dos ingressos. Então, sempre que podemos, gostamos de dar essa oportunidade para nosso público que é bem diversificado, de jovens que trabalham e estudam à noite até aposentados que nunca tiveram chance de estudar e imigrantes que precisam de uma formação brasileira para tentarem melhores empregos”, diz Sheila. “São filmes brasileiros que dialogam muito com a realidade desses alunos que se veem representados nas histórias, nas narrativas, nas personagens, tanto que muitos ficaram emocionados no final da sessão. Aqui no CIEJA nós trabalhamos por temas e no momento estamos abordando ‘mulheres reais’, e a Pureza é exatamente isso: uma mulher real! Que dialoga muito com a realidade de muitas das nossas estudantes”.

A identificação com a temática do filme é imensa para pessoas como, por exemplo, Lucilene Pantoja Ferreira, que teve um irmão assassinado depois de ter sido obrigado a trabalhar num garimpo na Guiana Francesa. Ao final da sessão ela estava muito emocionada e quase não conseguiu dar entrevista. Essa emoção, aliás, atravessou toda a plateia, incluindo as várias professoras e professores da escola, alguns que tiveram sua primeira experiência numa pré-estreia.

Diferente de Pureza, a mãe de Lucilene jamais conseguiu achar o irmão, enterrado como indigente

“Estou no Brasil há três anos e perdi meu irmão há 12 anos, não no garimpo do Brasil, nas na Guiana Francesa. O filme me chamou muito a atenção porque a mãe dele tava procurando ele e a minha não conseguiu, porque ele tava em outro país. Ele foi acusado jogar baralho com dinheiro do dono do garimpo, o que era mentira, mas mataram ele”, conta Lucilene.

Abaixo mais algumas fotos do evento clicadas pela fotógrafa Thaís Nozue:

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