Galeria do Futuro estreia com sucesso no Parque Residencial Cocaia

Comédia de Fernando Sanches e Afonso Poyart fez a alegria de crianças, adultos e até pets (que se deliciaram com as pipocas caídas no chão) que lotaram a curva em U da Travessa Domingo no Parque

Texto: Vinicius Souza (www.mediaquatro.com). Fotos e entrevistas: Vinicius Souza e Thaís Nozue

Cinema na rua, no meio da comunidade, é sempre uma festa. Ainda mais se São Pedro ajuda e não chove. Nesse quesito, aliás, o coordenador do CineB Solar, Cidálio Vieira, é mestre: se ele diz que não vai chover, mesmo com nuvens no céu e previsão na TV, pode acreditar. E foi isso mesmo que aconteceu no último dia 30 de abril, na estreia da comédia nacional Galeria do Futuro no circuito do CineB Solar.

O líder comunitário, Sidnei da Rocha Souza, o Japa do Bar do Japa, onde foram distribuídos os ingressos, conta que a luta para trazer lazer, cultura e mesmo coisas básicas como cestas de alimentação pra comunidade é longa:

“Antigamente, a gente saía aqui do Cocaia pra assistir jogo de futebol na TV lá no Grajaú. Então vamos fazer um bar lá no Cocaia, reúne a galera e assiste o jogo. O bar mesmo só abre aqui pra gente ficar de final de semana, brincar, se distrair. Primeiro jogo assistimos, bacana, bastante gente. Então foi o seguinte: ‘fulano lá tá precisando de uma doação, Japa’. Então vamos fazer o quê? Vamos fazer uma reuniãozinha, tirar um pouquinho de cada, levar uma cesta básica. Tocou todo mundo. ‘Vamos trabalhar na parte do projeto? Vamos ajudar quem agora?’ Ah! Vamos ajudar o pessoal do Jaceguava. Levamos mais de 70 cestas básicas para a comunidade’, Aí a comunidade falou assim: ‘Peraí, Japa! Você mora aqui e não traz esse recurso para a comunidade?’ Dai eu falei: calma! não é assim. Vamos trabalhar pra tentar! Fizemos o projeto e o primeiro foi o Dia das Crianças. Trouxemos brinquedos que a gente ganhou numa doação de uma empresa. Daí o pessoal viu e disse: ‘Opa! tá bacana’. Ano que vem vamos melhorar o dia das crianças? Bora! Tivemos bastante brinquedo, pula pula, algodão doce, pintura de rosto e daí no terceiro ano veio o pessoal do Marcolino (Luiz Cláudio Marcolino, ex-presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e apoiador de primeira hora do Projeto CineB), com bastante brinquedo, doce, tomou conta da comunidade. Então veio a atividade da Páscoa, bem legal, bem bacana. Primeira páscoa que nós tivemos, ganhamos cinco caixas de bombom. Falamos: ‘pô, é pouco, não vamos conseguir dar pra todo mundo na comunidade. Ah! Vamos bater nas portas.’ Batemos na porta de um e de outro. ‘Toma aqui , R$5, R$10’. Mas nem todo mundo quer dar dinheiro na mão. A gente fala: ‘dá bala?!’ Reunimos aquele pacote de bala e entregamos. E assim começou o Bar do Japa, para fazer ação.”

Bruna Silva, da Regional Sul do Sindicato dos Bancários, Luiz Marcolino e Cidálio Vieira na abertura da sessão

Comunidade reunida, se ajudando, parcerias com o Sindicato, a coisa tava rolando bem. Mas ainda faltavam alternativas de cultura. O cinema mais próximo, por exemplo, é no Shopping SP Market, a cerca de 10 quilômetros de distância. Isso sem falar no preço do ingresso, da pipoca, uma outra alimentação… Com isso, o pessoal do Bar do Japa resolveu fazer seu próprio cinema, com aparelho de DVD, lençol esticado e um projetorzinho. Muita gente curtiu, se divertiu. Mas faltava alguma coisa. FALTAVA! Foi nessa pegada que o Japa conversou com o Marcolino, que conversou com o Cidálio e pronto: marcaram uma sessão do CineB Solar, com direito a tela grande, projetor profissional, filme exclusivo em estreia no circuito, som massa e a famosa pipoca do Seu Antonio na faixa.

Japa e Cidálio na van energizada do CineB Solar

“Quando o Marcolino disse ‘dia 30 no Cocaia’, eu peguei e falei: ‘ó, dia 30 vai ter cinema no Cocaia’, em frente ao Bar do Japa”, lembra o Japa. “Eles acharam que de novo ia ser aquele projetorzinho e lençol. Falei: ‘não! relaxa, vai ser uma coisa mais bacana. mas vou deixar em off’. Quando eles viram o caminhão, me ligaram e falaram: ‘ó, Japa, tá subindo um caminhão ai pra sua comunidade’. Era a van toda equipada, com placa solar e tudo que a gente tem direito”.

Carlos Alberto Rodrigues dos Santos, o Carlinhos, é um dos moradores mais antigos do bairro. Ele lembra quando ali tudo era mato, literalmente, e as crianças jogavam bola onde hoje é a curva da Travessa Domingo no Parque, onde fica o Bar do Japa e foi montada a tela e projetor do CineB Solar.

“Eu moro aqui há mais de 40 anos. Minha filha que vai fazer 33 já nasceu aqui. Antes, eu morava na Pedreira. Quando a gente mudou pra cá, aqui só tinha três casas. Nem rua tinha, era trilha. O caminhão da mudança deixou tudo lá em cima do morro e a gente teve que carregar nas costas aqui pra baixo. De lá pra cá fomos evoluindo até chegar onde estamos hoje. De primeiro, não tinha nem água. O Zé do Poço é que cavou um pra gente usar, depois tinha de vir carro pipa… Graças a Deus agora temos mais estrutura, ruas, numeração, tudo certinho. Foi difícil, mas com muito sacrifício conseguimos trazer água, eletricidade e asfalto, que foi um dos últimos”, explica Carlinhos. “Acontece, que cultura a gente ainda não tem aqui. O único lazer que tinha era a pelada das crianças aqui mesmo onde estamos. Muitas dessas crianças hoje são pais desses meninos que você vê correndo aí. Eu mesmo joguei muita bola aqui. Por isso foi ótimo vir o CineB Solar e esperamos que venha mais vezes. Pra você ter uma ideia, a última vez que eu fui no cinema foi pra assistir Titanic!!”.

Japa e Carlinhos, desde os primórdios do Residencial Cocaia

Outra que não tem tido a oportunidade de ir ao cinema há muito tempo é Carmen Lúcia Rodrigues dos Santos, também moradora do Parque Cocaia há mais de 30 anos. O bairro já tinha um pouco mais de casas, mas ainda não havia ruas e a única forma de chegar era por uma picada no mato. Ela é presença forte na comunidade, mas não se considera uma líder comunitária, apenas alguém que ajuda os outros sempre que pode.

“É maravilhoso ter vindo o cinema. Porque aqui a gente não tem nada, tudo é muito longe. Se tiver que levar as crianças é tudo do Grajaú pra lá. Então, toda opção de lazer que chega é muito bom”, explica Carmen. “E eu achei o filme realmente muito divertido. Dei muita risada. Pra você ter uma ideia, a última vez que fui ao cinema ainda era solteira e já tenho 30 anos de casada!”.

Veja abaixo mais imagens da noite de comédia no Residencial Cocaia:

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