Filme de Lázaro Ramos é aplaudido de pé por alunos, professores e funcionários
Segunda-feira (15) foi dia de cinema na Escola Estadual Maria José, localizada na região do Bixiga, Centro de São Paulo. 120 pessoas prestigiaram o filme “Medida provisória” em sessão promovida pelo CineB Solar. A comunidade escolar se reuniu no pátio em frente ao refeitório da escola e assistiram, atentas, à película de grande sucesso.
Escola Estadual Maria José
Região de grande circulação, a escola está sediada na Rua Treze de Maio e atende um público diverso e heterogêneo, conforme relata o coordenador pedagógico do Ensino Médio, Marco Antônio Maluf.
“Nós temos aqui os três segmentos; o Fundamental I, que hoje chamamos de anos iniciais, depois temos o Ensino Fundamental II e temos o ensino médio. Aqui no Bixiga a gente atende 90% dos alunos que são moradores da região. Há uma mistura, desde alunos providos da classe média, principalmente com essa crise, muitos vieram pra cá e também alunos que moram em cortiços e ocupação. Então, é bem heterogêneo nosso público daqui.”
Maluf enfatiza sobre a importância de projetos como o CineB Solar e a integração de escola e cinema.
“Quando se relaciona cinema com educação é sempre uma atividade interdisciplinar, porque abrange muitos aspectos de todas as disciplinas que temos na escola e os alunos acabam aprendendo de outro modo que é vendo ali no cotidiano que o cinema coloca e o aluno entra dentro do filme e ele se sente naquele lugar e consegue entender os problemas que estão ali colocados, a partir de seu ponto de vista.”
Essa não é a primeira vez que houve uma parceria entra a Maria José e o CineB Solar, como lembra o coordenador.
“A gente já tinha feito outra sessão com o CineB Solar aqui na igreja Acheropita, lá no salão, com o filme “Rio”, que também foi muito bom. Lotou o salão com os alunos da escola. É uma experiência muito boa, porque quando a gente aplica filme em sala, eles se dispersam rápido. Mas trazer o cinema pra cá, eles estarem em outro ambiente, muda a forma como os alunos se relacionam com o filme.”
Presentes na sessão, os professores também estavam animados para o filme. A equipe CineB Solar agradece a presença de todos.
Sessão aclamada
“Medida provisória” já é sucesso de bilheteria no Brasil. O filme conta a história de um Brasil distópico, onde o Governo, por meio de uma medida arbitrária, resolve mandar as pessoas pretas à força para a África, gerando revolta e instaurando um estado caótico. Em meio ao misto de Thriller e drama, surge o romance entre Capitu (Taís Araújo) e Antonio (Alfred Enoch).
“Uma das principais ideias que Medida Provisória busca levar para o público é a de coletividade, o que fortalece ideias e torna nossa vivência mais potente”, disse Lázaro sobre o filme. “E eu fiquei feliz demais em ver que o público percebeu isso e se sentiu a vontade para contribuir, através da sua arte, textos, das fotos e todo o material que venho recebendo desde antes do Medida estrear”, completou.
No Maria José há alunas e alunos diversos que se identificaram ou despertaram a empatia sobre o enredo, pois é uma realidade vivenciada pela maioria. Poder se ver nas telas de cinema é sinônimo de representatividade e engajamento.
Microfone aberto
O microfone ficou aberto, assim que a sessão terminou. O debate envolveu os alunos que comentaram sobre o filme, desabafaram e todos foram unânimes em almejar o fim do racismo no Brasil e no mundo.
Paulina Maria Nkunku, aluna angolana do 1ºD, foi a primeira a pegar o microfone.
“A maioria do povo brasileiro é negra e essa mistura a gente encontra na sociedade, como no filme; pais negros e filhos brancos, pais brancos e filhos negros. A gente não escolhe a cor que vamos nascer. Às vezes você teve antepassados negros e você branco, mas tem um filho negro. E daí? Como faz? Por meio desse filme, a gente precisa é evitar racismo e que seja uma das lições. Não importa a cor, todo mundo mercê liberdade. A liberdade é uma responsabilidade da gente. Aprendemos na Filosofia que com liberdade, a gente tem mais responsabilidade. Temos que no unir num só propósito.”
Em seguida, foi a vez de Elisha Silva, do 2º ano, falar.
“Pra mim foi excelente ter vocês aqui e eu queria agradecer o incentivo de vocês virem aqui mostrar o filme para todo mundo na escola. Eu amei! O filme debate sobre o racismo, que é estrutural no nosso Brasil”
Maria da Glória Bonga Lopes, de Angola, aluna do 1ºD, disse o que sentiu ao assistir ao filme.
“Não sei falar muito bem o português. Mas o que aprendi com o filme é aprender a valorizar quem nós somos. Não é porque o outro é diferente que você tem que tratar mal. Nunca vamos saber quem vai nos ajudar um dia. Então, precisamos nos respeitar para o que o outro também nos respeite.”
Roger Guilherme Ferreira Peixoto, do 1ºE, também fez sua fala.
“A gente sente dor, a gente toma o mesmo remédio, a gente usufrui das mesmas coisas. Não é porque eu sou de uma cor diferente, uma origem diferente que devo ser julgado como um criminoso, algo que seja ruim pra sociedade. Porque no Brasil a maioria é negra. O mesmo sangue que corre na veia de um preto, corre na veia de um branco.”
Outro que mandou seu recado foi o aluno Ruan Phablo Araújo Teixeira.
“Foram e são os pretos da classe trabalhadora que fazem esse país crescer, que constroem as coisas, somos mais de 50% e não temos o reconhecimento que merecemos, só o branco engravatado sentado quem tem o reconhecimento.”
Leko Garcia Sebastião, angolano, do 3ºE, desabafou.
“Aqui no Brasil o racismo é mais invisível, diferente dos EUA, mas tem racismo aqui. Eu estou aqui há poucos meses e já sofri racismo. Então, posse dizer que o brasileiro é um povo também muito racista. O racismo distorce o relacionamento com muita gente. A gente deve ser um povo antirracista, solidários entre nós.”
Aluno do 1ºE, Gabriel Corradi foi último a manifestar sua opinão.
“Eu sou de quebrada, da zona norte, Jardim Brasil e lá tem desigualdade de qualquer forma. Qualquer jeito que você pensar, você é distratado, porque você é de quebrada. Todo mundo já cresce pisando na gente. Eu sou “branquelo”, não posso falar muita coisa, mas acima de tudo é o respeito. E fogo nos racistas!”
Sorteio de livros e camisetas
Hábito no CineB Solar, o coordenador Cidálio Vieira sorteou para os participantes duas camisetas do projeto e livros da parceira Letraria Cultural, que doou mais 30 livros no último sábado (13).
O CineB Solar
CINEB SOLAR é um circuito itinerante de cinema realizado pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e pela Brazucah Produções. Desde 2007, o projeto já atingiu um público de 84 mil espectadores em mais de 639 sessões gratuitas realizadas em comunidades e universidades de São Paulo. Percorremos cerca de 142 bairros da cidade de São Paulo e 18 cidades fora de São Paulo
Ao longo destes 15 anos criamos o Selo CineB do cinema brasileiro , com 4 DVDs que contém no total 18 curtas mais bem avaliados pelo projeto. No Prêmio CineB Solar do Cinema Brasileiro premiamos com troféu 217 entidades e 156 diretores dos filmes exibidos. A iniciativa busca democratizar o acesso ao cinema nacional e divulgar os filmes produzidos no Brasil.
Já foram exibidos na tela do CINEB SOLAR 153 longas-metragens e 105 curtas-metragens, além da realização de pré-estreias exclusivas. Nesse momento de isolamento, para evitar aglomerações, nos reinventamos e preparamos novos projetos: CineB on-line, CineB Solar na Janela e CineB Autorama, ações para que todos possam ficar em casa e se divertir com uma sessão de cinema.
Foi simplesmente maravilhoso, parabéns a todos os envolvidos. Esse é um tema que merece atenção, foi gratificante participar desse lindo projeto.
Foi muito bom 🍿
Um projeto maravilhoso levando cultura e conhecimento aos alunos dando oportunidade aos que não têm acesso. Eu queria agradecer em nome de toda comunidade da EE Maria José à todos e todas do PROJETO CINEB