Mais de 300 pessoas estiveram presentes no Cine B deste domingo, realizado numa quadra poliesportiva do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Artefatos em Couros e Peles de São Paulo. Ao final da sessão o público participou de um rápido batepapo com o diretor e roteirista do longa-metragem A guerra dos vizinhos, Rubens Xavier.
Todos os espectadores desta exibição participam do Movimento de Moradia do Centro (MMC), que há 26 anos obteve seu estatuto de funcionamento. Fundado por catadores de papelão, o Movimento evoluiu e hoje, congrega diversos outros diversos outros grupos organizados da cidade.
“Algumas pessoas participam do MMC, conseguem sua casa, depois deixam o Movimento. Mas não lutamos apenas pela casa, queremos direito a saúde, trabalho, educação e lazer, por isso diversos outros grupos participam de nossas assembléias”, disse Raimundo Motta, coordenador do MMC. São pessoas que lutam por direitos dos negros, LGBTT, jovens e crianças.
“Sempre tudo que conseguimos foi com muita luta. Antes não existia diálogo entre a população e o governo. Nos chamavam de baderneiros porque para chamar atenção, saíamos pelas ruas batendo lata, fazendo nossas reinvidicações”, dissea conselhgeira gestora do MMC, Sueli. “Para forçar ainda mais o diálogo, ocupamos alguns prédios públicos do governo que estavam abandonados e com o tempo fomos conseguindo obter alguns de nossos direitos básicos”, disse.
“Quem veio aqui para ganhar uma casa, é melhor ir embora. Aqui não damos casa pra ninguém, nós ajudamos a pessoa a conquistar esse direito para continuar lutando pela melhora de todos”, disse Gege antes de começar o Cine B, numa Assembléia com todas as entidades que participam do MMC no Sindicato da Indústria.
Nesta assembléia, Gege fez a chamada de uma lista com 20 nomes, que agora poderão dar continuidade na papelada para a conquista do primeiro imóvel.
“Quero agradecer este momento lindo. Comi muito contra-filé com o Lula e agora vou comer o filé com a Dilma”, disse a espectadora Wilma Maria das Neves para Gege.
“A companheira não tem o que agradecer, mas pode se comprometer cada vez mais com o Movimento. Somos uma organização de trabalhadores compromissados com os demais companheiros”, respondeu Gege.
CINEMA E PIPOCA EM COLETIVO
“O cinema é uma ótima opção de diversão, melhor ainda quando assistimos os filmes que mostram a nossa história. Por isso, para nós é de extrema importância que este projeto continue difundindo os filmes brasileiros”, disse o recém eleito deputado estadual, Luiz Cláudio Marcolino, idealizador do Cine B, realizado pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e Brazucah Produções.
“Assistir a um filme juntos, na tela grande é fundamental para nós da Brazucah. Por isso fico feliz de ver esta sessão cheia, mesmo com esse calor da tarde”, disse Cynthia Alario, diretora da Brazucah Produções.
“Essa coisa de levar cinema, pipoca e unir todo mundo pra assistir um filme é genial. Não conhecia o Cine B e mas estou muito contente de estar aqui”, disse Rubens Xavier.
Para ele, seu filme dialoga muito bem neste ambiente comunitário, até mesmo porque a história do filme transmite a mensagem de que quando as pessoas se mantêm unidas e abertas ao diálogo, as diferenças são mais fáceis de se resolver.
“Escrevi a história do filme quando li uma reportagem no jornal sobre 3 senhoras de São João da Boa Vista que foram judicialmente incriminadas por fofoca. O juiz na época foi um pouco vingativo e as colocou para fazer trabalhos comunitários, descascando pepinos e abóboras”, disse Rubens Xavier, diretor do filme A guerra dos vizinhos.
Segundo ele, o ano em que teve contato com a notícia foi 1991. Rubens foi até a cidade para entender melhor o caso e iniciar a criação do roteiro. “Ao todo foram 18 anos até o filme ficar pronto”, disse Rubens.
E sabe quanto tempo demorou para ser filmado? 28 dias! “Junto com o produtor Fernando Andrade, conseguimos organizar o trabalho de tal forma que com pouco dinheiro viabilizamos uma produção com um elenco excelente e uma direção de arte muito boa”, disse Rubens Xavier.
Confira abaixo algumas perguntas que o público fez para o diretor e roteirista Rubens Xavier.
Cicera Belma da Conceição: “O que você queria mostrar nesse filme?”
Rubens Xavier: “Vamos ser mais cordiais, menos mesquinhos e mais amigos uns dos outros. Bom humor e risada tudo se resolve de forma mais simples. Como diz o português no filme, resolver todo o problema bebendo uma cervejinha pode ser a solução”.
Eva Maria: “Na verdade minha pergunta é mais um comentário, pois gostei como você mostra isso de respeitar os vizinhos, entender até onde vai meu direito, conviver com ética com o vizinho”.
Rubens Xavier: “Você usou a palavra mais adequada: ética é fundamental para vivermos em grupo”.