Texto e fotos por Vinicius Souza – www.mediaquatro.com
Pela segunda vez, o Projeto CINEB apresentou, na véspera do Dia do Trabalho, o melhor filme sobre Rap já produzido no Brasil: Sabotage – O Maestro do Canão. A sessão anterior já tinha sido histórica ao levar a fita com toda a estrutura de um cinema para as ruas da comunidade onde viveu o mítico rapper, na Zona Sul de São Paulo. Dessa vez, foram os moradores das mais distantes periferias da cidade, e não só, que saíram de suas casas e locais de trabalho para assistirem o filme na Regional Paulista do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região. Com isso, os 150 assentos disponibilizados foram poucos e a produção teve de usar cadeiras da própria regional para acomodar quem chegou mais tarde. O clima da sessão, contudo, não podia ter sido mais gostoso, divertido e emotivo.
Afinal, tinha muita gente legal lá, como o diretor do filme, Ivan 13P e os produtores Denis Feijão e Arthur Pizzo, que apresentaram a fita e participaram de um debate com o público no final. Também estavam presentes Dino Dragone, diretor de cinema e Jac Cordeiro, atriz e assistente de direção. A sessão teve ainda a presença de bancários, diretores do sindicato e representantes de várias entidades sociais que já receberam CINEB. A sessão teve cobertura do programa Momento Bancário, da TV dos Bancários, e entrevistas para o único programa de Rap da TV aberta brasileira: o Manos e Minas, da TV Cultura de São Paulo, apresentado pelo rapper Max B.O.
A coordenadora administrativa do jornal Le Monde Diplomatique, Arlete Martins, também foi conferir de perto a eficácia da parceria do jornal com o CINEB para a difusão da cultura brasileira. Esse ano, em todas as sessões do CINEB serão distribuídos exemplares do jornal de origem francesa, que sempre traz análises aprofundadas de cultura, política e economia. Em contrapartida o jornal divulga o projeto com banner na capa do site (http://www.diplomatique.org.br).
Diversos músicos também estiveram presentes, como Ricardo Paramartchuk e MC Gra, que veio de São José do Rio Preto para a apresentação. “Para mim o filme foi fantástico”, disse a rapper. “Saio daqui muito motivada porque vejo que tem mais gente no movimento percebendo a importância da música e que o dinheiro não pode ser o objetivo da arte, mas que vem como consequência”.
Mário Balbino, estudante de história do Grajaú, extremo Sul de São Paulo, destacou a importância do filme e do artista para a cultura brasileira. Aldenir da Silva, do Jardim Pantanal, bairro da Zona Leste, completou dizendo que Sabotage segue vivo na memória. “Ele não morreu, ele está presente nessa meninada das periferias que aprende com seu exemplo e percebe que pode lutar por algo melhor em suas vidas”. Já Edson Ferreira da Silva, de Guaianazes, aproveitou para assistir o filme pela terceira vez. “Acompanho sempre o pessoal pelas redes sociais, fico atento e vou a qualquer lugar da cidade onde passar para ver novamente”, afirma.
Mesmo quem não é do “meio” curtiu o filme. “Eu não sou do Hip Hop, mas soube da exibição do filme no CINEB pelo site do Catraca Livre, vim conferir e fiquei muito feliz com o resultado e o debate depois”, disse Isabel Manso antes de afirmar que agora vai procurar mais sobre o artista para conhecer melhor essa personagem que transitou como poucas entre a música e o cinema, tendo atuado em filmes como Carandirú e O Invasor. Uma presença ilustre que não pode deixar de ser mencionada é a da cabelereira Dorothy de Souza, que criou o penteado espetado de Sabotage e deu um emocionante depoimento para o filme.
Nas entrevistas e no debate, os responsáveis pelo filme contaram como conseguiram produzi-lo e falaram também sobre a importância do CINEB em sua divulgação. “É incrível a atualidade do Sabota mesmo depois de 13 anos de sua morte, só que a luta de quem faz cinema no Brasil não é apenas criar bons filmes, mas principalmente conseguir sua exibição ao público”, conta Ivan 13p. “Nesse sentido, a parceria com o CINEB e a oportunidade de levar o filme, primeiro para a comunidade do Canão, onde ele vivia, e depois aqui para a região da Paulista, é maravilhosa”. Denis Feijão também destaca a parceria com o CINEB e com a família do músico, que é sócia do filme. “Mais do que resgatar a memória e a obra do Sabotage, o filme e os novos produtos a ele associados, como a revista em quadrinhos, o livro e disco de inéditas que serão lançados, também são uma forma de garantir o sustento da família do artista, que continua vivendo no mesmo lugar”, conclui.