Texto e fotos por Carlos Rizzo
A comunidade de Americanópolis, na Zona Sul, lotou a sala improvisada num galpão comercial para acompanhar, pela primeira vez, uma sessão de cinema, no maior projeto de democratização do acesso ao cinema brasileiro: o Cine B.
A estreia do Cine B em Americanópolis, Zona Sul de São Paulo, domingo, 17/5, foi ao estilo Cinema Paradiso – filme italiano que é uma “declaração de amor ao cinema”, segundo uma moradora. O espaço, inusitado, um galpão comercial da empresa H.Trevo Serviço de Remoções de Hidrojato, lembrou as famosas sessões ao ar livre dos anos 1950 e 1960, retratados pelo filme de Guiuseppe Tornatore.
No roteiro do dia, mais uma sessão d’O Menino no Espelho (2013), dirigido por Guilherme Fiúza Zenha, que adaptou a obra de Fernando Sabino para a telona. Foi a segunda das quatro exibições previstas para acontecer no Cine B ainda em maio.
A expectativa dos organizadores locais do evento era grande. Luis José Durval, o Biga, João Luiz Correa e Janaína Luna Santos, moradores da região, foram os responsáveis por levar o Cine B à Americanópolis. Tudo começou depois que o trio criou, há exatamente um ano atrás, em 17/5/2014, o bloco de carnaval dos Cabeças da Cinco. O nome do bloco é uma referência à rua Cinco de Outubro, onde fica o bar do Biga, sede do bloco. O primeiro desfile dos Cabeças aconteceu na terça-feira de carnaval deste ano e foi um grande sucesso reunindo as famílias da região. Preocupados em manter atividades culturais frequentes, o grupo, por meio de Janaína, procurou Cidálio Vieira Santos, coordenador do projeto Cine B e, com apoio de Mailton Pereira da Rocha, proprietário do galpão comercial, viabilizou o evento no aniversário de primeiro ano do Bloco.
Segundo Janaína, a região é carente de opções culturais. “Considerando que não estamos tão perto, nem tão longe do centro da cidade, ainda tem muita gente daqui que nunca foi ao cinema ou a qualquer outra atividade cultural”. João, carioca de nascença e o puxador das marchinhas de carnaval do bloco, concorda com a moradora: “a questão cultural é esquecida aqui nesta região. Quando vimos essa oportunidade, abraçamos, pois queremos valorizar a cultura brasileira, e o cinema faz parte dessa cultura tão rica e diversificada que temos”.
A abertura da sessão contou com a presença do idealizador do Cine B, o ex-presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e ex-deputado estadual Luiz Cláudio Marcolino que resumiu os oito anos de trajetória do projeto falando da importância em oferecer oportunidades para as pessoas conhecerem a produção cinematográfica nacional, que quase não encontra espaço para exibição no circuito comercial. “O cinema é a melhor forma de mostrar a riqueza de cada região do nosso país. Quem é de fora de São Paulo pode rever um pouco de sua cultura nas telas”.
Para o casal Júlio César Oliveira e Maria de Fátima da Conceição Silva Oliveira, que nunca foram ao cinema, a atividade foi uma ótima opção de lazer. Ao lado da filha Júlia, acompanharam toda a exibição, ficaram até o sorteio dos brindes e acabaram levando para casa produtos de beleza e camisetas. Outra estreante numa sessão de cinema, Severina Bernardo da Silva, de 69 anos, “adorou o clima familiar” que se instalou na sessão, e encontrou várias amigas e parentes.
Maurício Gaspar e Viviane dos Santos, acompanhados da filha Tabata e da sobrinha Ana Beatriz elogiaram a organização da sessão, a qualidade do filme e a iniciativa do pessoal do Bloco dos Cabeças. “É bom para a comunidade trazer cultura. E a camiseta que ganhei vai servir para divulgar as próximas sessões”, informou Maurício.
A empolgação e o clima de festa ficou por conta do Bloco dos Cabeças que vestiu a camisa do Cine B e trouxe, antes da sessão e depois, nos sorteios, parte do repertório que ganhou as ruas de Americanópolis durante o carnaval de 2015.
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Até a próxima sessão!
O Cine B é um projeto que tem como missão a formação de público para o cinema brasileiro. Criado em 2007 pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região em parceria com a Brazucah Produções, já realizou mais de 350 sessões de cinema por toda a cidade de São Paulo, Osasco e Região, exibindo mais de 60 filmes brasileiros entre longas e curtas-metragens para cerca de 43 mil pessoas. Conta com o apoio de mídia da edição brasileira do Le Monde Diplomatique.