Texto e fotos: Carlos Rizzo
Cine B estreou, na última terça-feira (29/11), o longa-metragem Corda Bamba – História de uma Menina Equilibrista, do diretor Eduardo Goldenstein. A sessão aconteceu no Núcleo do Idoso José Bonifácio, na Zona Leste de São Paulo e reuniu um público dos cinco meses aos 85 anos.
Foi a primeira vez em sua história que o Cine B organizou uma sessão para um público exclusivamente de idosos. Quer dizer, haviam muitos adultos, adolescentes e crianças presentes no Núcleo de Convivência do Idoso (NCI) José Bonifácio, em Itaquera, Zona Leste de São Paulo. Mas a idade média do público ultrapassava, com tranquilidade, os 60 anos.
Estreia de espaço e filme novo em cartaz. Depois de exibir, durante todo o mês de novembro o longa De Onde Eu Te Vejo, o público da Zona Leste pode contemplar o longa Corda Bamba – História de uma Menina Equilibrista, de Eduardo Goldenstein.
O filme, inspirado no livro infantil de mesmo nome da escritora Lygia Bojunda Nunes, conta a história de Maria, uma menina de 10 anos que, por ser filha de pais equilibristas, foi criada no circo. Após um tempo vivendo com os padrinhos, Foguinho e Barbuda, ela se muda para a cidade grande para morar com sua avó. Apesar de enfrentar dificuldades em se adaptar à nova vida, ela aos poucos passa a se lembrar de um grande trauma do passado envolvendo seus pais.
O Núcleo de Convivência do Idoso em que aconteceu a sessão existe há cinco anos segundo Cláudia Marques Martins, gerente do espaço. Oferece atividades como ginástica, dança, ioga, roda de conversa e passeios para os 120 idosos que frequentam diariamente o espaço, divididos nas turmas da manhã e tarde.
O Cine B tomou contado com o NCI a partir de uma antiga parceira, a ONG Juntos (Jardins Unidos em Torno das Obras Sociais). Segundo o diretor da entidade, Humberto Canavesi, a parceria tem rendido bons frutos. “Esse projeto de trazer o cinema brasileiro para as comunidades, para quem não tem oportunidade, o cidadão se sente feliz de saber que o cinema está vindo próximo da casa dele, tanto é que as sessões normalmente estão lotadas. […] Agora que estamos assumindo a gestão de um novo espaço que chama Juntos Venceremos, nós estamos trazendo pela primeira vez o cinema aqui. Exatamente por causa da importância dessa parceria”, explica.
A sessão estava muito animada, com o público interagindo com o coordenador do projeto, Cidálio Vieira Santos. A aposentada Maria das Graças Barbosa, Seu José Manoel dos Santos e Sueli Carvalho Profeta puxaram, inclusive, o Hino do Idoso, composto por Seu José. O público presente cantou em coro o hino, que tem como refrão das estrofes: Tô, tô, tô/ Tô na melhor idade/ Vamos Abrir as Mãos/ Para a liberdade.
Seu José contou que fez hino em 2012, durante uma excursão e já apresentou sua obra em inúmeros lugares como na avenida Paulista, Brasília entre outros lugares. Maria das Graças, que estava ao lado de Seu José no palco cantando o hino lembra que o grupo que frequenta o espaço já gravou inclusive três filmes, em que os integrantes do projeto foram atores. “Um deles eu fiz o papel de moleque”, comenta. Sueli ajudou a lembra o nome dos filmes: “Um deles se chama A Casa da Minha Mãe e teve até lançamento. O outro se chama Lar Feliz e tem um terceiro sobre a consciência negra”, finaliza.
Entre o público, bastante eclético, tinha desde Kauê, com cinco meses, acompanhando os pais Regina Oliveira e Robson Rodrigues, que trabalha no espaço, até Maria Soledad de Almeida Freitas, de 85 anos, moradora da Vila Carmosina, que estava acompanhada dos vizinhos. Dona Angelina Meschovita outra das mais idosas não se lembrava da idade, mas reivindicava ser a mais velha presente na sessão. Italiana, ela conta que só foi ao cinema uma vez na vida, nos anos 1950, quando chegou no Brasil com o marido Ciro Vitara, já falecido. E estava encantada com a sessão.
Quem também se emocionou como filme foi Juvika Pereira da Silva. “[O filme] mexe com a emoção da gente”, confessa. Ela, que estava acompanhada da tia e da filha Maria Gabriela de 8 anos, conta que nasceu no norte e já morou em muitos lugares do Brasil, mas nunca entrou em um cinema na vida. “A única vez que eu vi um filme assim, foi na rua, aqui no bairro. É difícil pagar para assistir, finaliza.
O CINEB é um circuito itinerante de cinema realizado pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e pela Brazucah Produções. Desde 2007, o já atingiu um público superior a 54 mil espectadores em mais de 400 sessões gratuitas realizadas em comunidades e universidades de São Paulo. A iniciativa busca democratizar o acesso ao cinema nacional e divulgar os filmes produzidos no Brasil. Já foram exibidos na tela do CINEB mais de 75 longas-metragens e 50 curtas-metragens, além da realização de pré-estreias exclusivas.